sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Todas as mães são ridículas

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Dizia o meu muito querido Álvaro de Campos que todas as cartas de amor são ridículas. Pois então o que dizer das mães, essas cartas de amor vivas e ambulantes, que se reescrevem todos os dias? As mães, aquelas que morrem de amor pelos seus filhos e ressuscitam a cada sorriso deles, são o cúmulo do ridículo. 

Os pais não são assim. E isto não quer dizer que eles amem mais ou menos que nós, mães. Eles vibram, ficam orgulhosos, fotografam, riem e contam a façanha, mas a emoção, aquela que transborda pelos olhos, está-nos eternamente reservada. 

Só uma mãe, ridícula, poderá emocionar-se ao entrar na creche e ver o rosto da filha numa estrelinha que decora o pinheiro de Natal. Ela, ali, no meio de tantas outras estrelinhas, que, seguramente, emocionam outras mães. Ridículas e felizes. Como esta.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Se não podes com eles...

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Quando decidimos o nome da nossa filha, tínhamos plena noção que se tratava de um nome dado a possíveis degenerações para coisas estranhas. E, mesmo que não tivéssemos, o tenebroso 'Guida' e o ainda pior 'Guidinha' rapidamente surgiram, em tom de brincadeira. 

O drama das Guidas é tal, que fomos logo alertados para esse destino inevitável, que aguardava a Margarida, como que a esfregar sadicamente as mãos. Se é Margarida, será, invariavelmente, mais cedo ou mais tarde, em menor ou maior escala, uma Guida. Ou Guidinha. 

Ingénua que era, acreditava que esses tempos já eram, que, no máximo, teríamos uma Maggie ou uma Magui. É que eu até compreendo, Margarida é um nome longo. Dá algum trabalho, exige alguma articulação e admito que eu própria já me enrolei uma ou outra vez.  

Mas é, para mim, o nome mais bonito. O mais especial... É o nome que nós escolhemos, aquele que (tão bem) identifica a nossa filha. O que lhe assenta que nem uma luva. Nome de flor. A nossa Margarida. 

Esta semana, na creche, quando preparava a Margarida para voltarmos para casa, ouvi "Guida, já vais embora?". Continuei. Outra vez. Três vezes. A insistência fez-me olhar para trás, mesmo sem ter feito qualquer associação. Era a auxiliar da sala da Margarida. Aquela senhora, genuinamente querida, que lhe dá sempre um beijinho repenicado e recebe em troca o sorriso feliz da Margarida. 

Acho que andei numa espécie de negação, porque, na verdade, esta não foi a primeira vez que ouvi referirem-se assim à Margarida, lá na creche. Achei sempre que era em tom de brincadeira, de tão má que a outra hipótese seria. Então, ria-me. Mas esta semana tive a certeza - seja para a educadora ou para as auxiliares, a minha filha é uma Guida.

Sei que se trata de uma guerra desigual, mas eu recuso-me a deixar que o destino desta Margarida seja igual ao das restantes. 

Se não podes com eles, mais um motivo para não te juntares a eles! 

O nome da minha filha é M-a-r-g-a-r-i-d-a.

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quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Olhó pai a falar para ti! #2


A Visão de uma Gravidez por Afinidade

1º Trimestre

Agora tenho mesmo que começar a perceber disto, a lembrar-me das aulas de biologia, ver vídeos no youtube sobre gestação passo-a-passo e perceber que milhões de milagres têm que acontecer para que tudo aconteça com "normalidade".

No primeiro trimestre, se a mãe chegasse ao pé de mim e dissesse que, afinal, não estava grávida (falso alarme), haveria por certo um reajustamento cerebral, por assimilação da nova fase, mas o choque não seria muito grande, já que não sentia nada no meu corpo nem havia, ainda, alterações muito visíveis no corpo dela.

2º Trimestre

Com a barriga já bem saliente e a visível presença de um ser frágil no seu interior, na minha cabeça impunha-se a necessidade de um aumento da segurança desse mesmo ser, com uma espécie de reforço blindado, com barras anti-choque, pois a barriga sempre me pareceu vulnerável e insuficientemente segura, mesmo para os pequenos acidentes.

Essa “preocupação” aumentou quando começaram os primeiros movimentos de dentro para fora, que para além de serem perceptíveis ao toque, eram já visíveis ao olhar atento. Foi aqui que senti a primeira comunicação involuntária e os primeiros laços extra-biológicos.

Um pequeno ser, que mais tarde (no meu aniversário), iria ser revelado o sexo por uma profissional de saúde de leste, munida de meios tecnológicos avançados - “É uma minina!”, disse ela! Foi impossível conter a emoção, senti mesmo que naquele momento fazia-se História, a nossa história.

3º Trimestre

Período de todas as revelações e emoções fortes. Ver o primeiro sorriso em 3D, contornos do rosto (ainda que digitalizados), exames que revelariam (felizmente) uma boa saúde do bebé e da mãe (parabéns à mãe, pelas exemplares condições que ofereceu a ela própria e à bebé).

A necessidade de comunicar com o pequeno ser, agora já Margarida, foi bi, tri-diária... A constante actualização das evoluções sensoriais e motoras, semana após semana... Até aos sinais que nos indicariam que o grande momento estava perto.

E O MOMENTO é mesmo O ACONTECIMENTO das nossas vidas, pois nada é comparável à força avassaladora daquele momento.
E nada, nem mesmo o acompanhamento bem de perto de todo o processo (Aulas de Preparação, vídeos, tutoriais, outras belas estórias), nada me preparou para o dia 7 de Abril de 2014. O dia maior.

O Pai da Margarida.

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

Onde começa o amor?

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Quem nunca passou pelo nascimento de um filho pode até acreditar que, juntamente com aquele ser, nasce, de imediato, um amor imensurável. Ali mesmo, na sala de partos. Como se bastasse bater os olhos naquele bebé, que respira pela primeira vez. É isso que nos dizem. É isso que muitas mães continuam a apregoar que sentiram. Desculpem-me, mas isso são balelas. Fica bonito dizer que amamos os nossos filhos desde o primeiro minuto? Fica, mas eu não lhe chamaria amor. Às custas desse clichê, são muitas as mulheres que ficam a questionar-se, que se sentem pessimamente, que duvidam daquilo que serão enquanto mães, porque, efectivamente, não sentiram esse amor imensurável de que se fala, assim que ouviram aquele primeiro choro. 

Ao primeiro choro da Margarida, senti, acima de tudo, alívio. O maior alívio da minha vida! Alívio por ela estar bem, alívio por termos conseguido. Senti uma imensa e inebriante felicidade, que dificilmente se consegue explicar. Senti que estávamos, os três, a viver um momento histórico, na nossa história. Que era um privilégio, o maior de todos. Que, a partir daquele momento, tudo faria para assegurar o bem estar daquele ser, até ao fim dos meus dias. 

O nascimento da Margarida fez-me lembrar, mais que nunca, que não passamos de animais. Não nasceu um amor imediato e imensurável. Mas nasceu, juntamente com ela, a minha total disponibilidade para aquele ser. Uma capacidade de abnegação que desconhecia. Um encantamento crescente. Uma animalesca vontade de cuidar, lamber a cria, alimentá-la, reconfortá-la, admirá-la. Mas tudo isto sem saber muito bem porquê. Afinal, como poderia amar um ser que, mesmo tendo crescido dentro de mim, acabara de conhecer? Amar porque é suposto? 

Não amei a Margarida de imediato. Mas um dia, ainda na gravidez, pensei 'e se correr alguma coisa mal e apenas uma de nós se puder salvar?' (viva as hormonas!). Nesse momento, senti que preferia, sem qualquer hesitação, que se salvasse a bebé. Aquele ser que eu apenas sentia mexer cá dentro. Senti essa escolha com tanta verdade e convicção, que me assustou, de tão nova que era a sensação. Nesse momento, tive a certeza que estava preparada (dentro do que é possível estar), para ser a mãe da Margarida.

O amor, esse, foi-se construindo, como qualquer amor. Rapidamente passei a ser viciada na Margarida. Era uma necessidade animal de tocar, cheirar, acalmar, cuidar, que qualquer mãe bem conhece. Dava comigo a pensar que se, por algum motivo, me visse privada daquele bebé (outro grande viva para as hormonas!), enlouqueceria. O primeiro mês foi a fase do encantamento. A partir daí, com os primeiros sorrisos, veio a paixão. Uma paixão que galopava, de cada vez que o sorriso da Margarida me fazia sentir abraçada por dentro. Sem que me apercebesse muito bem disso, o amor, o tal imensurável, cá se foi instalando, graças a tantos momentos felizes, mas, também, a episódios mais delicados que juntos superámos. Graças a isso e a tudo o resto que desconheço. Um amor que cresce por tudo e por nada.

O amor que se sente por um filho deve ser das coisas mais difíceis de colocar em palavras. Sei apenas dizer que é um amor que me dá vontade de chorar. Às vezes, tantas vezes, olho para ela e os meus olhos enchem-se de água. E, ao escrever isto, sinto vontade de ir a correr ao quarto, abraçá-la e dar mais um bocadinho de beber a este amor, com aquele sorriso, aqueles olhos brilhantes, aquele cheiro - mas iria acordá-la e isso é capaz de não ser boa ideia. E é quando penso neste amor que me faz sentir tão viva, de tanto que enche a alma, que mais tenho certeza que nunca poderia chamar amor ao que senti quando a Margarida nasceu. 

A Margarida tem apenas 7 meses e meio e eu juro que não faço ideia onde irá caber mais deste amor, que cresce de forma colossal todos os dias. Mas sei, com toda a certeza, o que irei fazer com ele. Ou não fosse ela a minha filha.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

4490 Marias

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Segundo um artigo da Visão, no ano passado foram registadas 4490 Marias, 1942 Matildes, 1867 Joões e 1841 Rodrigos. Seguem-se, na lista dos nomes mais populares, Martim, Leonor, Tomás, Francisco, Mariana, Salvador e Carolina.

A notícia fez-me remontar àquela fase da gravidez em que, desconhecendo ainda o sexo do bebé, se começa a pensar seriamente no assunto. No nosso caso, nunca outro nome de menina veio à baila. Nunca outro foi hipótese. Nunca tivemos de fazer listas, ir a votos, decidir.

Ainda assim, a hipótese de ser menino fez com que pudesse sentir na pele um bocadinho do drama que muitos casais sentem, no momento de escolher o nome de um filho. Sou difícil com nomes. Contam-se pelos dedos da mão aqueles que não me fazem torcer o nariz. Especialmente no caso de nomes masculinos! 
Eu disse ao pai os que gostava. Ele disse-me os que gostava. Inicialmente, ficámos com duas opções, mas nenhuma delas me enchia as medidas. Ainda insatisfeitos, sentámo-nos frente ao computador e fomos percorrendo as listas de nomes. "Não", "Nem pensar", "Ahahahaha, NÃO!". Até que nos cruzámos com um que pareceu ter despoletado um qualquer click. "Olha, eu gosto!", "Eu também!", "Gosto mesmo!", "Está decidido!".

Acho que a ligeireza com que arrumei o assunto se deveu, em grande parte, ao facto de acreditar, cá bem no íntimo, que nada disso seria necessário, afinal, seria a Margarida. Felizmente, confirmou-se e o assunto ficou por ali mesmo. 

Ainda antes do nascimento da Margarida, percebi que nunca teríamos levado aquele nome de menino adiante. A certa altura, comecei a ouvir o nome em todo o lado. Na maternidade, dividi o quarto com outra recém-mãe, mãe de um menino com o nome que o meu supostamente teria. Na creche da Margarida, um menino com o nome que o meu supostamente teria. Na lista dos nomes mais populares do último ano, o nome que o meu filho supostamente teria. E isso fez-me ver, mais uma vez, o que as desgraçadas das hormonas são capazes de fazer! Nunca, em tempo algum, eu escolheria um "nome da moda". Mas escolhi, mesmo que de forma pouco convincente. 

Moral da história, se puderem, não escolham o nome do vosso bebé durante a gravidez. As hormonas vão minar-vos o cérebro e correm o risco de acabar com uma Leonor Matilde ou com um Rodrigo Tomás. 

Esta coisa das modas é de sempre e para sempre. Lembro-me de, ainda na escola, na hora da chamada, haver sempre aqueles nomes que se repetiam. De estranhar seria se, daqui por uns anos, a Margarida convidasse para as festas de aniversário a Cátia, a Marisa, o Sérgio, a Susana e o Jorge.

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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Maternidade - O íman do fundamentalismo


Desde que me vi no papel de grávida, senti receio de me tornar numa daquelas mulheres que sempre gozei. Como não queria ousar subestimar o poder das hormonas, temi. Temi transformar-me na típica grávida, que não consegue parar de passar a mão na barriga, de empiná-la, de querer mostrá-la ao mundo, de a usar como bandeira para tudo o que é privilégio, desculpa ou regalia. Os meses foram passando e a minha mão passava na barriga apenas quando não havia público, quando éramos apenas nós. À excepção dos últimos três meses, em que fiz questão de reclamar sempre a minha prioridade, nunca usei a barriga como desculpa para nada. E juro que também nunca inventei desejos. 
Não fui muito de falar para a barriga, muito menos de cantar para ela - mas a Margarida fartou-se de me ouvir falar sem parar e, sobretudo, rir, rir muito. 
Sei que a Margarida não precisou das minhas constantes festas ou dos meus monólogos com a barriga para me sentir, para me conhecer. Nem eu precisava disso para me sentir mais mãe dela.

Depois de nos conhecermos cara a cara, aí sim, veio o real receio de me transformar em tantas coisas. De não conseguir ser a mãe que idealizava. De não ver mais nada. De não querer mais nada. De impor a minha pouca experiência. De não ouvir os outros. De ouvir demasiado os outros. De não ter a humildade de reconhecer as más escolhas. De não voltar a ser eu mesma, além da mãe da Margarida. De perder a sensatez. De me ir tornando, de mansinho, numa mãe fundamentalista. 
Medo de tantas coisas que me poderiam levar para bem longe de quem havia sido até então. Tinha medo que a maternidade me toldasse a visão e, pior, que eu nem sequer me apercebesse disso. 

Assim que se embarca nesta feliz loucura que é ter um filho, desenvolve-se uma espécie de íman que atrai tudo o que é conselho, comentário, opinião, dica, juízo de valor, sugestão, crítica - duvido que alguma grávida/recém-mãe/mãe consiga fugir a essa sina. As vozes insurgem-se, apontam o dedo, ditam as soluções e os inevitáveis desfechos, em caso de as ignorarmos. 
São vozes tão fundamentalistas que apontam más mães, aqui e ali. Elas existem, infelizmente. Mas nunca uma mãe será má mãe por ter agendado uma cesariana, por não amamentar, por praticar o cada-um-na-sua-cama-sleeping, por conseguir sair de casa sem o bebé de 15 dias. Concorde-se ou não. Pratique-se ou não.

E eu não tenho a menor paciência para isso. Não tenho e fico tão feliz por não ter! Garanto-vos que nunca me irão ouvir/ler a pregar sobre a forma como eu acho que devem educar ou cuidar dos vossos filhos. Ainda assim, e como a maternidade se torna muito mais fácil quando partilhada, sou muito mais rica (e melhor mãe, acredito), por ter com quem partilhar ideias, trocar opiniões, tirar dúvidas. Pessoas que sabem do que falam. Ou pessoas que possam estar tão à nora quanto eu. Não importa. Importa a intenção, a sensatez, a noção de onde começa a liberdade do outro, enquanto mãe/pai, a pessoa que terá sempre a última palavra. Uma escolha que merece todo o respeito, mesmo quando discordamos. 

Ao todo, conto apenas com 16 meses de experiência, como grávida e como mãe, mas sinto que se esgotou a minha paciência para ouvir/ler sobre como são péssimas mães as que optam por não amamentar ou como são umas fundamentalistas aquelas que sonham amamentar até aos 2 anos. Sobre as maravilhas do co-sleeping ou sobre o quão mimadas ficarão as criancinhas por dormirem na cama dos pais. Sobre a mãe demasiado apegada ao bebé, que nunca mais foi jantar fora com o marido e até se anulou profissionalmente ou sobre a outra que é demasiado desapegada, trabalha e tira uma noite por semana para namorar. Sobre a alimentação, sobre a creche, sobre o sono, sobre tudo e mais alguma coisa que não acrescenta rigorosamente nada. 

Naturalmente, tenho a minha opinião sobre cada uma dessas questões, questiono-me sobre algumas delas, sobre outras tenho certeza de que a minha convicção não irá mudar. Mas daí até achar que tenho o direito de impingir a minha visão a alguém, vai um longo caminho. Um caminho que quero ter sempre a sensatez de não ousar percorrer.

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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Aninhar, abrigar, aconchegar

Vicente Romero Redondo

Sobrevivemos àquela que foi, muito provavelmente, a pior semana destas últimas trinta e duas. E, nesta última semana, entre sonos trocados e agitados, a Margarida descobriu que gosta de dormir no aperto dos meus braços. E eu descobri que este furacão, tão sedento de mundo, tão repleto de energia, às vezes, também acalma. Aos sete meses, a Margarida parece começar a precisar que lhe mostre que sim, que também é bom acalmar, contemplar, desfrutar, deixar o mundo lá fora à espera e perdermo-nos em momentos mágicos. E eu descobri, nesta semana de tanto cansaço e preocupação, que, apesar de adorar ser mãe de uma bebé tão cheia de vida e de vontade de viver, sentia falta de a ver relaxar e sucumbir ao cansaço, nos meus braços. Rosto com rosto. Respirações fundidas. Batimentos sincronizados. Dois corpos na mesma temperatura. A mais pura intimidade. 

Esta semana serviu para me fazer sentir a urgência de saborear cada pedaço da Margarida. Ela está a crescer, cada dia mais curiosa, mais excitada pela quantidade de novidades. E teve de vir o raio de uma doença para a fazer abrandar, desinteressar-se, querer aninhar com a mãe. E a mãe, ainda a tentar perceber o que se estava a passar, abrigou-a de coração cheio, surpreendida. Uma e outra vez. Ambas percebemos que gostamos. Muito. Tanto. Por isso, hoje, assim que voltámos da creche, foi hora de aninhar e esquecer o mundo lá fora, que grita por ela. Garanto que amanhã será igual. E depois. Sempre que possível. Sempre que possível, irei tapar-lhe os ouvidos com abraços apertados, deixar o mundo em mute e fazer com que aqueles olhos curiosos pestanejem mais lentamente. Mas sempre ciente de que este meu pequeno furacão estará apenas a repor energias para um despertar electrizante, de sorriso rasgado e olhos brilhantes, como que a dizer "Mundo, estou de volta! O que tens para mim desta vez?".

Mais que uma otite, acreditamos que, pelo meio, se meteu, também, um salto de desenvolvimento. A Margarida está a passar, à maneira dela, por aquilo a que chamam 'angústia da separação'. Esta semana foi muito mais do que tratar daquele corpo pequenino, que não sossega. São as emoções e percepções que se alteram profundamente. E o resultado é um pequeno furacão que é, também, uma flor, com uma crescente necessidade de atenção. E de beijinhos nas mãos que se encostam aos meus lábios. E  de infindáveis sorrisos e abraços. E de cantigas e danças.
Agora, a Margarida não se limita a querer descobrir o mundo - ela quer que o façamos juntamente com ela. E há lá coisa que nós mais desejemos?!

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Isto de ser mãe

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Sempre ouvi dizer que isto de ser mãe era como viver com o coração fora do peito. O meu coração mantém-se por aqui. Mantém-se e bate mais forte que nunca. Mas bate, agora, ao compasso do coração da Margarida. 

Só que isto de ser mãe não mexe apenas com o coração. Mexe com a garganta, que fica com um nó apertado, de cada vez que o termómetro dispara. Mexe com o estômago, que dá a sensação de estar virado do avesso, de cada vez que ela chora de dor ou de qualquer outro desconforto. Mexe com as pernas, que ficam bambas, perante tamanha impotência. Mexe com os braços, que ficam dormentes de tanto colo que têm para dar. 

Antes de ser mãe, conseguia imaginar que ter um filho doente fosse imensamente angustiante para os pais. Aos 7 meses da Margarida, senti isso na pele. Sentimos. Antes, imaginava que essa angústia se devesse à preocupação. Estes dias ensinaram-me que, mesmo quando o quadro deixa de ser tão preocupante, a angústia mantém-se, de pedra e cal, até ao dia em que a prostração termina. Há poucas coisas mais angustiantes que ver um filho doente. Seja lá que doença for. Sabê-lo doente é mau, mas vê-lo doente é de cortar o coração, aquele que bate no mesmo compasso.

Aos bocadinhos, a Margarida está a melhorar, e nós juntamente com ela. Que isto de amá-la com o corpo todo, às vezes, também dói.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

7 meses no dia 7



Sete meses. Sete! Estou há horas a repetir este número, a tentar interiorizar. Não sei porquê, mas este 'sete' tem um peso diferente dos restantes números. Acho que deixei de ver a Margarida como um bebé pequenino. Não sei se pelo número, se pela quantidade de novidades das últimas semanas, ou por uma conjugação de ambos. 

A Margarida cresceu. Adora comer e come como gente grande. Bate palminhas. E bate, bate, bate, até na hora de adormecer! Diverte-se a chapinhar na água do banho e a apanhar os patinhos. Tem uma força física que nos surpreende (e assusta) todos os dias. É louca destemida. E ri-se. Ri-se sempre, todos os dias, a toda a hora! Mas a Margarida não se limita a rir. A Margarida ri-se com vontade, com expressões do mais profundo gozo e diversão. Na creche, é conhecida como 'o furacão', mas um do tipo bem disposto. Tem um dentinho a crescer de dia para dia. Já se move para onde quer, quando quer - nem que tenha de accionar o modo lagartixa. A Margarida acredita que algures está sempre a acontecer algo mais interessante e divertido - e tem de ir lá ver para ter a certeza, mesmo que não saiba propriamente onde fica 'algures'. É persistente - nem que fique ofegante, a Margarida só para quando consegue. Diz 'papá', para grande felicidade e orgulho do papá... e da mamã! Gosta de dormir (de lado) e dorme sempre a noite toda - igualmente para grande felicidade dos papás! 

Bem sei que a Margarida é, na verdade, mais um bebé igual a tantos outros, em tantos aspectos. Mas esta é a nossa Margarida. A única. Para nós, que há sete meses (sete!) temos o privilégio de viver com e para ela, a Margarida é o maior sorriso do mundo. O amor maior. E tem, agora, sete meses.

"Nunca sorrimos tanto assim, 
És a flor mais bela do nosso jardim,
Margarida...
O amor não tem fim."

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quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Coisas que eu gostava que me tivessem dito

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Se há altura da vida em que uma mulher vai ouvir coisas completamente desnecessárias e infelizes, é durante a gravidez. No meu caso, os comentários que mais me incomodavam vinham sempre em jeito de vaticínio, uma espécie de sina à qual não poderia escapar. A julgar pelo que fui ouvindo, não era sequer suposto ter sobrevivido além do terceiro mês. Pelo menos, de forma sã e minimamente apresentável. 
Esses comentários, com um leve toque de sadismo, além de não acrescentarem nada, ainda me irritavam mais. Especialmente quando vindos de outras mães, que, do alto da sua imensa e intensa experiência, sentiam aquele gozo efervescente, ao lançarem o pânico junto de grávidas, que é como quem diz, poços de sensibilidade ambulantes. 

Felizmente, sempre fui bastante impermeável a opiniões e vaticínios alheios. Mas, azar dos azares, na gravidez, essas coisas - e todas as outras - afectam! Não basta o nosso corpo estar a fabricar um pequeno ser humano, os desconfortos crescentes, a ideia de passar por um parto, o total desconhecido e as imensas dúvidas ao estilo 'serei capaz?', ainda temos de levar com a história do bebé que nasceu sem braços, da mulher que nunca perdeu aqueles 20kgs, ou do bebé que com um ano ainda não dormia uma noite seguida, o que fez com que os pais se divorciassem.

Em conversa com uma amiga que está grávida, reparei que agora sou eu a ter de ter cuidado com o que digo. Não sinto que deva pintar de cor-de-rosa uma realidade que tem, também, muitos cinzentos, mas acredito que devo dizer apenas aquilo que poderá, efectivamente, acrescentar algo, ajudar ou elucidar. 
Dei por mim a questionar-me sobre o que gostaria que me tivessem dito, ao invés daquelas tretas sádicas, que as mulheres dizem umas às outras. Eis o meu top 3:

Amiga, compra já umas ampolas e um bom champô anti-queda!
Ok, este comentário também surge ao estilo vaticínio, mas de uma forma construtiva. Informativa! Durante a gravidez, fui lendo aqui e ali sobre as mudanças que a gestação trazia ao cabelo, que nuns casos se tornava mais fraco, noutros mais forte e brilhante. Cheguei ao fim da gravidez igualmente satisfeita com o meu, portanto, achei que tinha escapado ilesa. Passou-se um mês, dois, perfeito! Ao terceiro mês de pós-parto, a coisa ficou crítica. Cada vez mais cabelos na escova, cada vez menos na minha cabeça. Quando comecei a comentar com x e y, as pessoas confirmavam, lá por volta do terceiro mês após o parto, o cabelo cai. A rodos. E eu juro que ainda hoje não entendo como é que ninguém se lembrou de me avisar. 

O pós-parto é lixado! Vais-te sentir mal, vais duvidar de tudo, mas é normal e vai passar!
Claro que eu sabia que o pós-parto não deveria ser nada fácil. Claro que imaginava que seria delicado, sendo que essa fase envolveria um recém-nascido e uma recuperação física. Mas ninguém me avisou que, emocional e psicologicamente, poderia ser pior que a gravidez. E, no meu caso, foi. Aliás, o pós-parto foi pior que a gravidez e o parto juntos. Levamos 9 meses a prepararmo-nos para ambos, sem haver qualquer referência ao que vem depois, à excepção dos cuidados a ter com o bebé. E os cuidados com a mãe? Neste ponto, "culpo" também os profissionais de saúde, que deveriam abordar a questão, tanto junto da grávida, quanto do companheiro (que também tende a ser apanhado de surpresa). É importante dizer que acontece, que é normal sentirmo-nos tristes (mesmo que o mundo, e nós próprias, não o entendamos), que pode acontecer. É importante saber disso. As hormonas são lixadas, sim. O baby blues existe, sim. E passa, SIM! Valha-nos o facto da queda de cabelo vir só lá mais para a frente!

Não habitues o bebé a adormecer com embalo!
No nosso caso, seria mais "não vás à bola!". Quando a Margarida tinha cerca de dois meses, o pai descobriu que dar pulinhos com a miúda ao colo, na bola de pilates, não só a acalmava, como adormecia. Ui, maravilha! Seguiram-se dois meses de adormecimentos aos pulos. E o que, no início, nos pareceu a descoberta das nossas vidas (e uns trocos a menos gastos em ginásio), transformou-se num pesadelo que nos fazia pular incessantemente, até a Margarida finalmente fechar os olhos, o que, numa das vezes, levou 1h30m a acontecer. Uma hora e meia a saltar numa bola. Não havia outra forma de a adormecer. Depois de muito desespero, pesquisa, leitura e conversa com outras mães, percebi o (grande) erro. Futuras mães e pais, anotem: não devemos embalar os nossos bebés, seja no colo, no carrinho... na bola de pilates! Devemos ensinar o bebé a desenvolver a capacidade de se auto-acalmar, mas de uma forma que ele próprio consiga reproduzir mais tarde. E, convenhamos, nunca nenhum bebé irá adormecer sozinho, aos pulos ou a dar palmadinhas no rabo. 

Claro que, nisto dos bebés, convém sempre ressalvar que cada caso é um caso. Todos os bebés são diferentes, tal como as gravidezes, partos, pós-partos e dinâmicas familiares. Falo apenas da minha experiência. Teria sido muitíssimo útil que alguém me tivesse dito uma série de coisas, que vim a descobrir por mim mesma, algumas delas errando. Nisto da maternidade, como em muitas outras coisas, as mulheres conseguem ser as piores inimigas umas das outras, mesmo que sem intenção. E seria tudo tão mais fácil se nos deixássemos de clichés idiotas e partilhássemos coisas realmente úteis e construtivas, não acham?

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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ideias Giras | Milestone Baby Cards


Há ideias tão, mas tão giras, que merecem mesmo ser partilhadas! 
Registar para a posteridade o primeiro ano de vida do bebé, em semanas, meses e ocasiões especiais, através de fotografias com cartões ao estilo legenda, é a proposta dos Milestone Baby Cards

"Hoje faço duas semanas", "Hoje dormi a noite toda pela primeira vez", "Hoje cresceu o meu primeiro dente", "Hoje andei pela primeira vez", são alguns dos "hojes" mais importantes do primeiro ano de vida do bebé, que os Milestone Cards ajudam a documentar de forma ainda mais bonita. 

Naturalmente, a ideia partiu da cabeça de uma mãe (holandesa), que quis eternizar os momentos mais marcantes da vida do filho. O resultado está agora traduzido em português, em 30 cartões ilustrados, com espaço para escrever a data. 

E a pena que eu tenho de não ter descoberto isto antes do nascimento da Margarida?! 

Fica a dica para as grávidas e recém-mamãs, ou para quem, simplesmente, quiser oferecer um presente de nascimento para lá de giro!

Podem encontrar os cartões na Origami Kids - Loja Online

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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Uma margarida a florescer


Se há coisa que estes quase 7 meses de maternidade já me ensinaram é que, para sempre, irei viver dividida. Agora sei que ser mãe é viver numa constante montanha russa de emoções, numa viagem tão alucinante, que chega a ser difícil olhar para os lados e reparar na velocidade a que nos movemos. 

O primeiro ano de um bebé é sempre o das maiores novidades, mudanças e conquistas. Começamos com um ser minúsculo, quase em estado vegetativo, que, ao longo dos meses seguintes, dará lugar a um bebé que sorri (com dentes), que brinca, que se senta, que gatinha, com vocábulos que se assemelham a palavras e que tenta, ainda, ensaiar os primeiros passos. Haja metamorfose! 

No início, acredito que não se desfruta verdadeiramente. Queremos sobreviver, levar um dia após o outro. Depois começa a fase realmente boa, em que a coisa deixa de ser unilateral, em que o bebé começa a sorrir para nós, a fazer realmente parte do nosso mundo - e a parecer que até gosta de cá viver. Cada vez mais. 

Quando damos por nós, já embarcámos na tal viagem alucinante, com bilhete só de ida. Quando olhamos em volta, vamos num TGV rumo ao mês seguinte. E depois ao outro. Para qualquer outra pessoa, foi apenas mais um mês. Para o bebé, foi o mês em que conquistou mais uma mão cheia de habilidades essenciais para as etapas que se seguem. Sempre a somar, sempre a aprender, a explorar e a conquistar mundo. Nós, pais, estimulamos, aplaudimos, mas, sobretudo, assistimos da primeira fila, com os olhos a brilhar e o coração a transbordar. 

Já estava habituada a ver a Margarida somar pequenas conquistas, as normais, as expectáveis, mas não menos excitantes. Mas, este mês... caramba, este mês a miúda deu um pulo! São precisos muitos mais dedos para contar as novidades, as novas aquisições, as mudanças, as conquistas. A Margarida cresceu de forma alucinante, nas últimas semanas. E, este mês, por cada vez que me emocionei com a alegria de a ver crescer, logo de seguida, uma imensa nostalgia teimou em invadir-me. Sei que por cada nova habilidade, há um gesto, uma expressão, um som que presenciei pela última vez. Porque a Margarida está a crescer, tanto! 

Todas as noites, antes de me deitar, olho para ela e fico ali uns segundos a vê-la dormir, a tentar fotografar mentalmente aquele rosto tão perfeito, tão angelical. Quero guardar cada pedacinho da Margarida. Cada expressão, cada som, cada gesto, cada traço. Sei que não terei memória para tanto, que alguns pedacinhos se perderão pelo caminho e isso dá-me vontade de abraçá-la, para sempre. Mas ela tem coisas para fazer, para ver e viver. Tantas! Sempre mais. 

Sei que, para sempre, terei esta sensação agri-doce garantida. Sei que, para sempre, estaremos aqui os dois, a assistir, de coração a transbordar.

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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Olhó pai a falar para ti! #1


Antes da Margarida nascer, quando comecei a interiorizar o novo papel que, brevemente, iria desempenhar, nunca pensei que o que mais iria precisar, para um bom desempenho, seria PACIÊNCIA!

De facto, para além das constantes mudanças de fraldas, biberões, banhos, sonos de pequenos ciclos e constantes verificações de movimentos cardio-respiratórios, o exercício de maior exigência foi e é o da paciência.

A paciência foi altamente requisitada nos momentos de pré-sono e de adormecimentos propriamente ditos... Adormecimentos de longa duração e adormecimentos sem perspectivas de serem consumados, depois de um enorme investimento, quer de tempo, quer de pseudo-técnicas de condução aos braços de Morfeu.

Não foi preciso muito tempo para perceber que isto da paternidade exigiria, sobretudo, uma entrega sem pressas, sem relógio, sem desespero. E com isso percebi, surpreendentemente, que, afinal, tinha isso em mim, guardado para a Margarida, à espera que ela o viesse despertar.

A boa notícia é que, contra todas as adversidades, o amor faz com que essa paciência - condição sine qua non nisto de ser pai -, se multiplique. 

Se a minha paciência, antes de ser pai, já rareava em inúmeras situações, então, agora, é que ela é totalmente canalizada para seres prioritários, e com certeza que a Margarida é um deles.

O Pai da Margarida


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sábado, 1 de novembro de 2014

"É uma menina!"


Eram as palavras que, há precisamente um ano atrás, desejávamos ouvir. Desde que me soube a gerar um filho, nunca tive qualquer pudor em afirmar que sim, tinha preferência. Que não, não tinha rigorosamente nada a ver com querer encher as nossas vidas de vestidinhos cor-de-rosa e totós de todas as cores. Era tão mais que isso. Era a Margarida que eu desejava. Ela sempre teve nome. Se fosse menina, seria "a" Margarida. 

Há um ano atrás, foram precisamente essas as palavras que ouvimos. E nada há-de apagar da memória aquelas lágrimas que gritavam felicidade, aquelas mãos que se apertaram com tamanha força, aqueles sorrisos em rostos molhados que diziam tudo. 
Há um ano atrás, vi-lhe o sorriso mais feliz de sempre. E, naquela tarde, tive a certeza que, afinal, também ele tinha a sua preferência. A nossa Margarida. 

Esse momento fez-me acreditar que ele tinha acabado de ganhar uma menina do papá e que ela, a nossa Margarida, tinha ali conquistado um companheiro para a vida. 

A Margarida anunciou-se no verdadeiro Dia do Pai. Um Pai com letra maiúscula, como ele gosta de escrever.

O dia 1 de Novembro marca o nascimento do pai da Margarida. O dia 1 de Novembro de 2013 passou a marcar, para sempre, o nascimento dos pais da Margarida. 

P.s.: Parabéns, meu amor.

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