quarta-feira, 6 de julho de 2016

Rumo à mãe que agora desejo ser [2]

Imagem via Pinterest
Terminei o último post a dizer que, no seguinte, explicaria de que forma é que viver e educar de acordo com a disciplina positiva, vivendo uma parentalidade consciente, tem contribuído para uma experiência mais feliz e pacifica, para ambas as partes – pais e filha.

Pouco depois, recebi algumas mensagens que se resumem basicamente a “mas que raio é isso da disciplina positiva? Parentalidade quê?’. Eu também explico. Mas permitam-me começar pela base de tudo, que já referi no post anterior. 

Respeito é, definitivamente, a base. 

Acredito que a maioria dos pais faz o que melhor sabe e pode, pelos seus filhos. E acredito também que, quando falham redondamente, isso acontece maioritariamente por falta de informação – ou desconhecem as alternativas, ou desacreditam os seus resultados, sem sequer tentar experimentar.

Acho importante começar por definir alguns conceitos, dado que, sempre que se abre a boca para falar de filhos (e isso vai desde a educação até à alimentação), há sempre uma linha demasiado ténue a separar aquilo que é subjectivo, daquilo que é, na verdade, um facto incontornável – por muito que existam sempre as alminhas que tentam justificar o injustificável. 

Dizia eu que a nossa forma de educar, amar, cuidar, brincar e estar com a Margarida assenta no respeito. E esse é o único ponto que é indubitavelmente objectivo no que à maternidade diz respeito.

Parto normal ou cesariana, leite materno ou leite artificial, creche ou avós, co-sleeping ou cada um na sua cama – estes são alguns exemplos do que considero do domínio da subjectividade e, ainda que eu tenha a minha opinião formada sobre estes e muitos outros temas, nunca ousaria dizer a uma mãe (ou pai) que a sua escolha é errada, só porque choca com a minha visão ou experiência. Eu tenho os meus argumentos, eles terão os deles – e não precisamos discuti-los sequer, está tudo bem, desde que as decisões sejam tomadas em consicência dos prós e contras, tendo em conta o bem do bebé/criança.

Depois existem as questões que, para mim, nada têm de subjectivo – basta atentarem contra o respeito que cada um de nós merece – especialmente se falamos de uma criança. Se o teu filho faz uma birra, espetas-lhe com umas palmadas no rabo? Furaste as orelhas à tua filha de meses? Deixas o teu bebé chorar sozinho até adormecer? Castigas a tua filha sempre que ela age incorrectamente? Obrigas o miúdo a comer, mesmo quando ele está já em total desespero? Infelizmente, sei que a maioria dos pais não só responderia “sim” a inúmeras perguntas do género, como ainda hastearia a bandeira do “com muito orgulho, porque é de pais firmes e de regras que os miúdos precisam e levar uma palmada na hora certa só lhes faz bem – basta olhar para mim, que fui espancado pelo meu pai quase todos os dias, mas foi bom porque aprendi a não roubar mais borrachas na escola”.

Para além de acreditar que, em parte, isto se deve a falta de informação, acredito que a maior fatia do problema se prende com uma mentalidade totalmente ultrapassada, que faz parte do senso comum colectivo. Se há uma criança a passar-se com uma birra descomunal, em pleno supermercado, arrisco a dizer que, em 30 pessoas que por ali vão passar, apenas uma não irá olhar de lado e pensar “se fosse comigo... era uma palmada naquele rabo e eu queria ver...!”. Apenas uma pessoa teria a capacidade de sorrir, com empatia e solidariedade, para aquela mãe que tenta calmamente levantar o filho do chão, e que optou por tentar distraí-lo com outra coisa qualquer, ao invés de lhe espetar com uma palmada no rabo e fazê-lo chorar mais, descontrolar-se mais. Sim, era isso que iria acontecer. 
Ah, mas era da maneira que não voltava a fazer outra birra num supermercado, aprendia a lição” – Errado! A criança poderia até não repetir mais a birra num local público, mas por medo da reacção da mãe/pai. 

E agora entra aquilo em que acredito: obviamente, não gosto que a Margarida arme uma cena, seja no supermercado ou em casa. Mas se isso acontecer, aprendi que o melhor a fazer é tentar distraí-la com outra coisa, redireccionar a atenção dela, mostrar calma – o comportamento que espero que ela seja capaz de ter – e não a deixar ainda mais descontrolada. Faria algum sentido gritar com a minha filha, na esperança de ela parar de gritar também?! De relembrar que a adulta sou eu, portanto, tenho de me comportar como tal, controlando as minhas emoções/frustrações. Se nenhuma das minhas técnicas resultar, paciência (a minha e a de quem assistir), mas eu não lhe vou bater. Vou pegar nela, nem que esperneie freneticamente, vou tentar acalmá-la e fazer por perceber o motivo da birra (se existir – o que aos 2 anos e pouco não é garantido). É difícil? Temendamente difícil. É um desafio imenso. E acreditem, é muitoooo mais difícil do que sacar de uma palmada no rabo. Esse é o caminho fácil, mas um caminho que surte efeito através do medo, da coação – ‘fazes isso, apanhas!’.

Se eu me acho uma mãe melhor do que aquela que dá uma palmada? Na verdade, não. Considero apenas que tenho mais poder do meu lado, que conheço as alternativas, que aquela outra mãe desconhece ou desacredita. Acredito que quem o faz, fá-lo por acreditar que essa é a única forma de disciplinar uma criança. Tenho do meu lado o poder que as ferramentas que conheci me dão - e posso garantir que não, esse não tem de ser o caminho. E que não, não sairão daí crianças mimadas, sem limites e descontroladas. Disciplinar com amor e respeito faz as crianças crescerem mais cooperantes, mais afectuosas, mais sensíveis ao outro. 

Não gosto que a Margarida faça birras ou asneiras. Mas ela é a criança, eu sou a mãe. Quero que, acima de tudo, ela não faça asneiras por perceber o porquê de não poder fazer x ou y. Esteja na minha presença, ou não. Quero diálogo. Quero cooperação. Quero que a Margarida pense por ela própria e que me ajude quando eu preciso – e eu peço-lhe, explico-lhe que preciso, explico-lhe tudo. E, nos piores dias, aqueles em que nada disto resulta, o meu colo ela terá sempre garantido, porque mais difícil do que ela saber lidar com a frustração que a levou à birra, seria ainda levar com uma mãe que não a ensina a lidar com as emoções, dando o exemplo.

Ser mãe, de forma consciente e positiva, é um desafio diário. Costumo dizer que a disciplina positiva não é para as crianças, é para nós, pais, que temos de nos re-educar, aprender a gerir as nossas emoções, dar o exemplo e, acima de tudo, pensar no sentido das coisas, no que aquele filho em particular precisa, no que resulta com ele. Mesmo dentro da prática da DP, há coisas que funcionam com uma criança e com outra não – mas há sempre uma outra que funcionará, se conhecermos bem as nossas crianças e soubermos adequar. 

Pouco me importa se este terreno é altamente polémico e se susceptibilidades foram feridas. Se houver uma única mãe ou pai que, ao ler isto, pense ‘eu até dou palmadas, mas sinto-me sempre mal... gostava de saber mais sobre isso da disciplina positiva e afins’, então o objectivo destes textos já está a ser cumprido. 

E, para tentar elucidar minimamente quem ainda não está familiarizado com os conceitos, prometo que esse post, mais ao estilo informativo, seguirá em breve :)

Oh Happy Daisy | Facebook

2 comentários:

  1. Adorei este texto e concordo com cada palavra. Não vou dizer que consigo cumprir, sempre, com aquilo em que acredito mas, isso é certo, esforço-me todos os dias.
    Existem coisas mais fáceis de cumprir do que outras. Para mim não é difícil não bater à minha filha de 27 meses quando ela faz uma birra. Seria muito complicado bater-lhe porque não vejo sentido nenhum em bater numa das pessoas que mais amo. Claro que faço por ter firmeza com ela quando é preciso porque educá-la bem e prepará-la para o mundo é um dos maiores atos de amor, mas com violência não, obrigado.
    Já noutras coisas, como "se não arrumas os brinquedos não te dou a chucha" peco muito mais. Lá está, algo me diz que não é o correto, mas é o mais fácil.

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    Respostas
    1. É precisamente isso - um esforço diário! Seria tão mais fácil seguir por caminhos que nos garantem 'resultados' imediatos, mas bem sabemos que esse é um caminho sem volta, cujos resultados, a médio/longo prazo, não queremos para a vida dos nossos filhos.
      Não acredito em mães perfeitas e assumo que nem sempre estou à altura do desafio - o que depende sempre do nosso estado de espírito, da paciência, do dia que tivemos. Mas lá está, sabemos que o caminho é este, o do amor e do respeito e, sempre que nos for possível, estaremos a dar esse mesmo exemplo.

      (Curiosamente, hoje a Margarida também completa 27 meses... e bem sei o que é ter de recorrer, umas vezes, ao golpe da chupeta... Guilty!)

      Um beijinho

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