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Na sequência deste post e deste também, pareceu-me importante definir em linhas claras e mais ou menos gerais, para quem desconhece, o que é a disciplina positiva/ parentalidade consciente, em que princípios assenta, em que difere dos ‘métodos’ tradicionais. Porquê? Porque acredito a 100% que dessa forma estaremos a criar filhos mais equilibrados, confiantes, sensíveis e afectuosos.
De forma muito objectiva, a disciplina positiva trata-se de um modelo de disciplina (que eu encaro mais como uma filosofia de vida), que se baseia numa forma de educar sem punições (sim, não há cá castigos, há consequências naturais), onde é reforçado o comportamento positivo da criança, sem qualquer tipo de agressão física ou verbal.
Qual é o primeiro problema com que nos deparamos quando decidimos educar um filho dessa forma? A sociedade, aquelas vozes que se erguem de imediato, para afirmar que a ausência de punição – seja um castigo, seja uma palmada -, é coisa de pais permissivos, de pais que não sabem educar, de pais de filhos indisciplinados, que fazem o que lhes apetece, que não têm limites.
A disciplina positiva vem mostrar precisamente o contrário: é possível educar sem punir, sem que isso signifique perder o controlo da situação. A diferença é que, pais que aplicam a DP, percebem que uma disciplina eficaz é aquela que vem de dentro, que promove o autocontrolo da criança, a capacidade de análise e de escolha – e que nada disso surge através de obrigações, proibições, castigos ou presentes. Na disciplina positiva, o erro não é punido, é antes corrigido.
Ao contrário da disciplina dita tradicional (não sendo ela um método propriamente dito, mas antes a ausência de um), em que os pais gastam as suas energias a punir os comportamentos errados, pais que educam de acordo com a DP têm sempre em mente o tipo de adulto que querem ajudar a formar. Isto significa que, antes de mais, o foco principal recai sobre as ferramentas que queremos dar aos nossos filhos, para a construção de seres humanos confiantes, equilibrados, independentes, afectuosos e com autoestima. Como é que tudo isto se trabalha? Através do vínculo entre pais e filhos.
Ainda que se diga que a disciplina positiva só pode ser aplicada a partir dos 8/9 meses do bebé, acredito que ela pode e deve ser trabalhada muito antes, na mente dos pais. Convém munirem-se de toda a informação necessária, sempre adequada à idade do bebé.
Naturalmente, a forma de aplicarmos a DP junto de uma criança é completamente diferente daquilo que faremos com um bebé. Não quero neste post entrar por técnicas específicas, para questões específicas, mas é fácil de perceber a diferença: se com uma criança, a DP nos ensina que tudo se deve basear no diálogo, nas conversas que explicam e (sobretudo) mostram à criança o porquê de determinadas coisas não poderem ser feitas (ou terem mesmo de ser feitas), com um bebé que ainda não domina sequer a linguagem, os métodos utilizados passarão sobretudo por distrair, desviar o foco, arranjar alternativas que captem a atenção e quebrem o comportamento indesejado.
Querem exemplos para ser mais fácil de perceber?
No caso de um bebé que está a mexer, insistentemente, num objecto ‘proibido’, que se pode partir, que o pode magoar, etc, um pai/mãe da disciplina tradicional vai dizer ‘não’ umas 10 vezes. Vai perder a paciência, face à desobediência. Eventualmente, dá uma palmada na mão do bebé a ver se ele percebe, o bebé não percebe porque, na verdade, é um bebé e quer explorar o mundo, então vai deixar cair o objecto ao chão, o pai vai-lhe berrar e ainda dar-lhe uma palmada, que vai apelidar de “palmada educativa”. O bebé vai chorar, vai continuar sem perceber nada do que ali se passou e se, eventualmente passar a pensar duas vezes assim que ouve o pai gritar ‘NÃO’, será por medo da punição e não porque aprendeu que não pode mexer no objecto, sob pena de se magoar ou estragá-lo.
Na DP, o pai do bebé pode até dizer que ‘não’, mas vai rapidamente lembrar-se que é um bebé e vai olhar para o lado e procurar outra coisa que substitua, como um brinquedo, e retirar o outro da mão. “Ah, mas aí o bebé fica a chorar” – é aí que entra a distracção e a capacidade criativa que os pais da DP acabam por desenvolver. Resultado: ninguém se magoou, nada ficou partido e não houve energias a serem gastas negativamente.
No caso de uma criança que bate no colega da escola, o pai/mãe tradicional vai, muito provavelmente, reforçar a ideia de que ele é um “pestinha”. Na DP, a abordagem passaria por uma conversa, em que se tenta explicar à criança que o comportamento foi errado porque magoou o outro – a ideia é sempre criar esse tacto, essa sensibilidade ao outro. Eventualmente, a criança não o fará mais, porque sabe naturalmente que não quer magooar o colega e que isso seria errado.
Na parentalidade consciente, aprendemos que somos nós, pais, a assumir a responsabilidade pelos nossos próprios descontrolos. Dizer “o meu filho tira-me do sério” é simplesmente errado. Não foi o teu filho que te tirou do sério, foste tu que perdeste a paciência. És tu o pai/mãe. És tu quem tem de saber gerir as emoções e dar o exemplo ao teu filho.
Vais ensinar o teu filho a não gritar, gritando com ele?
Vais ensinar o teu filho a não ser violento, batendo-lhe?
Vais esperar que o teu filho se controle e pare a birra, se tu, que és o adulto, não te consegues controlar e estás aos gritos com ele?
“A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes!”
Óscar Wilde
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