quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Amigos, amigos... filhos à parte

Que a chegada de um filho vem mudar radicalmente o mundo dos pais, não é novidade para ninguém. A vida, tal como a conhecíamos, deixa de existir. São outras rotinas, outros interesses, outras preocupações, outras alegrias e, principalmente, outras prioridades. Mais concretamente no caso das mães, que nos primeiros meses vivem disponíveis 24/7 para as suas crias, a identidade perde-se um bocadinho ali pelo meio. Passamos a ser tratadas por "mãe" ou "mamã", seja na maternidade, no pediatra, ou no centro de saúde. O peso de sermos a mãe de alguém tem tanto de fascinante quanto de assustador. Esse peso vem moldar-nos e, em alguns aspectos, chega mesmo a mudar-nos, de forma irreversível. 

Levou algum tempo até que me voltasse a sentir eu mesma. Que sentisse essa vontade. Que conseguisse integrar e assimilar o meu novo papel. Era, então, altura de recuperar os pedacinhos do antes, aqueles que ainda fazem sentido, que me interessam, apaixonam e fazem sentir viva. Até que, a meio do processo, percebi que muitas das coisas que antes faziam parte do meu dia-a-dia e da minha lista de interesses e prioridades já não me pertenciam mais. O mesmo acontece com as pessoas. Por força das circunstâncias, minhas ou delas, as vidas ganham novos rumos. 

Depois de ser mãe, as minhas prioridades alteraram-se, é certo. Sei que estou em falta para com alguns amigos, sei que uns entendem, outros nem por isso. A verdade é que esses novos rumos fazem com que se passem semanas, meses, até que o tão falado café se concretize. A diferença reside na disponibilidade, a diferentes níveis. No início desta aventura, nem disponibilidade emocional tinha para um simples café, para outros assuntos, outras pessoas. Mea culpa! 

Mas, depois de ter passado uns meses nessa espécie de bolha, olho para o resto do (meu) mundo e vejo que, assim que a maternidade entrou em cena, também as amizades se alteraram profundamente. Refiro-me, sobretudo, à forma como os amigos passaram a ver-me e a lidar comigo.

Primeiro, aqueles amigos que se interessam. Gostam de nós, fazem parte da minha vida e querem que a coisa permaneça da mesma forma, adicionando alegremente o novo elemento ao clã. Neste grupo de amigos interessados, reparo que o grau de interesse relativamente à Margarida é sempre proporcional ao desejo que têm (ou não) de ter filhos. Muitas vezes, estes amigos querem saber detalhes mais práticos e concretos, um bocadinho a apalpar terreno, a ver se se imaginam, efectivamente, no papel. Aqueles que nem equacionam vir a ter filhos tão cedo, perguntam, gostam de saber, mas sem exageros - umas fotos e umas gracinhas bastam!

Depois existem aqueles amigos que, além de se interessarem, entendem. Nesta classe de amigos, mais raros, alguns deles são amigos recentes, igualmente com filhos, aqueles que a maternidade trouxe ou aproximou. Estes amigos gostam de trocar ideias e de acompanhar, falam a mesma língua, entendem a importância de coisas mínimas, têm um efeito 'normalizador' e, o melhor de tudo, quando são realmente amigos, conseguem vibrar, também, com o desenvolvimento da Margarida. E eu com o dos filhos deles.

E, por último, descobri que existem os amigos que evitam tanto o assunto bebés e crianças, que passam a evitar-nos a nós também, como se de uma doença contagiosa se tratasse. Assumem que a nossa vida, simplesmente, passou a resumir-se a isso. Que vamos falar apenas disso. Que passamos para o lado de lá da barricada. E porque é que isso os afecta tanto? Tenho para mim que são precisamente essas as pessoas que mais se assustam com a ideia de ter filhos, como se isso mexesse com alguns fantasmas que imploram por um exorcismo. Em suma, evitam-nos, como forma de evitar o que lhes vai lá dentro.

À excepção do grupo de amigos que também têm filhos, a maternidade parece ter vindo criar uma espécie de fosso. Uns querem fazer parte, mas não sabem muito bem como nem quando, outros não querem de todo, porque, afinal, existe um apêndice que se baba como se não houvesse amanhã.

Com ou sem filhos, todas as amizades se assumem de diferentes formas, com diferentes papeis, finalidades, graus de intimidade e companheirismo. Com a Margarida, a minha disponibilidade, a todos os níveis, passou a valer ouro e eu sei bem com quem a quero e devo partilhar. Posso retomar muitas das coisas que me interessam, apaixonam e fazem sentir viva, mas sei que a vida nunca mais será a mesma. Mas essa é uma bagagem minha. Não ando a impingi-la a ninguém. A Margarida não está sempre comigo. Eu não falo apenas da Margarida. Não me interesso apenas pela Margarida. Sou a mesma, mas sou agora mais, porque sou, também, a mãe da Margarida.

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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Até ser mãe

Sempre gostei de espontaneidade. Refiro-me àquela espontaneidade que nos permite mudar de planos, combinar um café, um jantar ou uma qualquer saída, quase em cima da hora. O inesperado era coisa que me agradava. Claro que, na maioria das vezes, a vida obrigava a alguma reorganização, coisa que facilmente conseguia fazer com um ajuste aqui e outro ali. Até ser mãe.

Depois veio a Margarida. Com ela, trouxe a exigência de uma dedicação exclusiva, a anarquia total das horas, dos dias, das semanas que se transformaram num mês e depois em dois.
E se, no início, não podemos falar propriamente em horários ou rotinas de um recém-nascido, isso não significa que nós, pais, não tentemos, dia após dia, criar uma rotina, acções em horários que se repetem, e que ajudem, essencialmente, o bebé  a começar a orientar-se cá fora.

Com o passar do tempo, começa-se a conhecer o bebé, a perceber o que ele precisa, quando precisa e durante quanto tempo. Até que vem uma nova fase e tudo muda. O bebé muda! Começa-se novamente a tactear tudo, a fazer ajustes, a reavaliar horários, a criar novas rotinas. E assim sucessivamente.
Persistir numa rotina passa a ser um objectivo diário e, assim que percebemos a forma como a repetição das acções ajuda o bebé a viver melhor, sentimos que aquele é o único caminho que devemos seguir. Para bem de todos. 

Isso significa, sim, que as necessidades do bebé passam a estar em primeiro. Tudo o resto que acontece, nos primeiros tempos de vida daquele ser, acontece nos intervalos. Ou assim deveria ser. Infelizmente, acredito que, na grande maioria dos casos, os pais são os únicos a respeitar e a compreender as necessidades do bebé. Mas, em boa verdade, é por isso mesmo que somos nós os pais, certo? Se há dias em que a incompreensão e a falta de cooperação de terceiros me incomodam, na maioria das vezes, tudo se contorna com algum jogo de cintura e com a ideia presente de que as pessoas não o fazem por mal.

Até ser mãe, sempre fui bastante flexível com horários e atrasos. Agora não sou. É o bem estar da Margarida que está em jogo e esse estará, para sempre, à frente de tudo. Por isso, não estranhem se por vezes nós, pais, vos parecermos demasiado rígidos e inflexíveis. Continuaremos a sê-lo, mesmo tendo de levar, eventualmente, com alguma incompreensão e caras feias pelo caminho.

Poderia afirmar que a maternidade me tirou a liberdade de fazer o que quero, quando quero. Mas não. A maternidade veio apenas alterar aquilo que eu quero. E o que eu quero, acima de todas as coisas, é que a Margarida esteja bem, que as suas necessidades e horários sejam respeitados. Que ela coma, durma e brinque nos tempos que eu já lhe sei serem os mais convenientes. Depois, assegurada essa parte, venham daí as visitas, os passeios e os jantares, que nós também gostamos (e muito) de ser  e ver gente!

Há quem acredite que o bebé tem de se ajustar à vida dos pais. Cá em casa, acreditamos e defendemos o contrário. Nem concebemos a vida de outra forma. Quem quiser juntar-se a nós, com ou sem Margarida por perto, terá de compreender isso. E avisar com alguma antecedência, já agora!

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quinta-feira, 23 de outubro de 2014

As hormonas que ficam... para sempre!


Esta manhã, enquanto levava a Margarida à creche, a certa altura começo a ouvir buzinadelas. Olho e vejo os carros a abrirem alas para passar, não o Noddy, mas uma grávida com uma barriga tal, que espreitava pelo vidro do carro. Era claro que a grávida, no banco do passageiro, não ia a passeio, ia, antes, para a maior aventura da vida dela. Na janela do banco de trás, alguém agitava freneticamente um lenço branco. Sim, uma típica cena de filme!

Quando cada um voltou à sua vida e eu voltei a mim, estava de lágrimas nos olhos e sem entender muito bem porque é que estava a ter de me controlar tanto para não chorar. De mim para mim, desejei àquela mulher, cujo rosto nem consegui focar, que tudo corresse bem. 

Também nós fizemos aquele percurso, numa noite de Abril, a horas de conhecermos a Margarida. Há uns tempos atrás, aquela cena ter-me-ia, no máximo, roubado um sorriso. Mas o (meu) mundo mudou. Hoje, eu sabia o que ela estava prestes a viver e isso apoderou-se de mim, juntamente com uma avalanche de memórias, que me pareceram já tão distantes, quando olhei para baixo e vi a Margarida a apreciar as vistas, enquanto enfiava a chupeta sozinha. 

Ainda a tentar encontrar explicação para toda aquela emoção que me percorria o corpo, pensei "são as hormonas!". 
Passamos nove meses a culpar as hormonas (essas desgraçadas que nos fazem  querer sentar no chão e chorar até desidratar, porque o móvel do Ikea está esgotado), e a tudo isso vem juntar-se um pós-parto, com hormonas desempregadas, a fazer estragos a cada 20 minutos. Habituamo-nos a culpar as pobres hormonas, quando a elas devemos agradecer o facto de termos sido capazes de gerar aquela vida - mesmo que de forma temporariamente bipolar e insana! 

Mas até quando é que é aceitável usar esse bode expiatório? Quase sete meses após o parto, ainda poderão andar por aqui umas desgraçadas a fazer das suas? Podem, é certo. Pode isso e pode a minha sensibilidade ter mudado, para sempre. 
Para sempre hei-de saber que uma grávida, numa fila de supermercado, merece toda a prioridade do mundo. Para sempre hei-de querer dizer a toda e qualquer grávida que tudo há-de correr bem, ao invés do infeliz "aproveita agora para dormires". Para sempre hei-de passar pela maternidade, olhar e pensar que sei exactamente o que se está a passar lá dentro e que, para muitas pessoas, aquele será o dia mais marcante das suas vidas. E vou sorrir por dentro. 

Esta manhã, tive a certeza que há hormonas que ficam... para sempre!

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terça-feira, 21 de outubro de 2014

As mães que eu não suporto



A propósito do artigo Pessoas sem filhos vs Pessoas com filhos, publicado, ontem, no P3, chego à conclusão de que não suporto a maioria das mães. Não suporto as mulheres que, tendo filhos, passam a ter prazer em cultivar o caos que é a vida, agora, com filhos. É um prazer sado-masoquista. Adoram alarmar as futuras mães, ditar-lhes uma sina fatídica, em que sono, higiene e vida amorosa passam a ser uma memória remota. 

Adoram, também, aliar-se umas às outras, numa espécie de culto, ou mesmo seita, em que existem as mães, essas pobres coitadas que não têm tempo para nada, que não tomam banho, que têm a casa num caos e que, em suma, deixam de existir enquanto seres humanos... e depois existe o resto do mundo. 
Essas mães, as grandes altruístas, tão bem resolvidas que estão, não conseguem parar de fazer comparações, de olhar para a vida da amiga, a que continua a ser gente (sem filhos, leia-se) e invejarem-na. Mas, para a coisa não soar ao que é, lá vem, em jeito de "vamos lá concertar isto", um "mas é o melhor do mundo e não trocava esta vida por nada", como que a minimizar ou descredibilizar a vida do outro, que ainda, não se reproduziu.

Do alto da minha meia dúzia de meses de experiência, permitam-me que repita: não suporto a maioria das mães! Estão a tentar exorcizar o quê? Convencer de quê? Conseguir o reconhecimento de quem? Se decidiram ter um filho, é óbvio que terão menos tempo para vocês, que os banhos terão de ser mais rápidos, que os dias terão uma rotina nova e diferente de tudo o que conheceram, que terão de ir inúmeras vezes ao pediatra, que grande parte do vosso orçamento irá ser gasto em coisas que não são para vocês vestirem, comerem ou brincarem. 

Mas essas mães que eu não suporto insistem em escrever assim, como se lê no referido artigo:

"As pessoas sem filhos anseiam por sexta-feira. As pessoas com filhos temem-na."
Esta mãe, claramente, está muito feliz com a escolha que fez e com o facto de ser obrigada poder passar tempo com os filhos, no fim-de-semana. Filhos felizes, weee!

"As pessoas sem filhos têm cartões de cinema ilimitado. As pessoas com filhos têm cartão IKEA family."
Amiga, nunca tive nem um nem outro! Mas acredito que haja uma qualquer entidade reguladora desse tipo de coisas, pela convicção com que falas!

"Para relaxar as pessoas sem filhos vão para o ginásio. As pessoas com filhos vão para o trabalho."
Portanto, deixa-me ver se eu entendi, as pessoas sem filhos não trabalham. Passam o dia no ginásio. Que grande confusão vai nessa cabeça! (até ia sugerir a esta "mãe" aproveitar o fim-de-semana para relaxar, também, com os filhos, mas depois lembrei-me do primeiro ponto!)

"As pessoas sem filhos escolhem o restaurante em função do menu, do preço, do chef, da decoração ou da localização. As pessoas com filhos entram no primeiro restaurante que tenha cadeiras para crianças."
Ao menos vais jantar fora com a criança, qual é o teu problema? Ok, deve ser fim-de-semana! (Até poderia fazer referência ao facto de qualquer restaurante ter cadeira para crianças, mas isso seria tornar este ponto sem sentido...)

"Ao sábado à noite, as pessoas sem filhos vão jantar fora, ao cinema e a um bar. As pessoas com filhos vão à cozinha aquecer restos no microondas, vêem meio episódio de uma sitcom e adormecem no sofá."
Ao sábado à noite, podes procurar afincadamente um restaurante que tenha cadeiras para crianças. Fica a dica.

"As pessoas sem filhos comem cereais, torradas, sumo de laranja e café ao pequeno-almoço. As pessoas com filhos também, mas metade disso vai parar à roupa, à carpete e aos cortinados."
Gostava que, antes de ser mãe, esse tivesse sido o meu pequeno-almoço típico. Em vez disso, sempre tive animais e, muitas vezes, o meu pequeno almoço foi parar à roupa, à carpete e aos cortinados.

"As pessoas sem filhos sentam-se no sofá a ler um livro e a beber um chá. As pessoas com filhos sentam-se na sanita e fecham a porta da casa de banho à chave para terem 5 minutinhos de relax."
Ora espera lá! As pessoas sem filhos não eram aquelas que iam a restaurantes, bares e cinemas?! O cházinho e o sofá é para as mães, minha menina! 

"As pessoas sem filhos vão domir. As pessoas com filhos vão fazer óó."
Vá lá, ao menos esta não nos impinge a ideia de que as mães sofrem todas de privação de óó. Mas a esquisitice, neste ponto, chega ao domínio da semântica!

"As pessoas sem filhos vão a esplanadas e ao cabeleireiro. As pessoas com filhos vão a parques infantis e ao pediatra."
Há pessoas que se em vez de perderem tempo a escrever pseudo-artigos, fossem ao cabeleireiro, talvez já tivessem menos ar de quem vai apenas ao parque e ao pediatra. 

"As pessoas sem filhos comem sobremesas. As pessoas com filhos escondem-se na cozinha e comem dois quadrados de chocolate para cima do lava-louças. Quando apanhadas em flagrante, as pessoas com filhos dizem que é medicamento e emborcam meio copo de água para validar a farsa."
E depois há quem deva passar o dia a ter de emborcar copos de água, para validar a farsa em que vive. Especialmente se for sexta-feira!

Parem lá de se queixar, "mães". Ninguém vos vai dar o prémio da melhor mãe do ano. Já repararam que mães é o que mais há no mundo? Filhos, esses, existem apenas os nossos.

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domingo, 19 de outubro de 2014

Vem aí... o pai!


E se a este amontoado de dissertações sobre gravidez, bebés e parentalidade, se juntasse também a voz do pai? O desafio foi lançado, o pai aceitou e este anúncio serve, também, como forma (assumidíssima) de pressão, para que ele comece a teclar o primeiro post!

O sorriso tão rasgado e feliz da Margarida não o é em vão. Não lhe faltam motivos para ser feliz, e um deles é o pai. Um pai que esteve presente em cada ecografia e aula de preparação, que também a ajudou a nascer. Um pai que soube sempre na ponta da língua os horários das refeições ou mesmo dos medicamentos, que, mesmo não fazendo a sopa, sabe todos os alimentos que a filha já ingere. Um pai que lhe faz e dá música, que vibra com cada nova descoberta. Um pai que lhe chama os nomes mais docinhos. Um pai, portanto. 

Um pai que, eu sei, tem muito a dizer, porque, afinal, vive a filha intensamente, desde o dia em que a soube a caminho. 

"Olhó pai a falar para ti", em breve, neste blog!

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Ideias Giras | Dream Pillows


E para estrear a rubrica Ideias Giras, nada melhor que uma empresa do Porto, que transforma a arte das nossas crianças em almofadas únicas. Assim que me cruzei com a Dream Pillows, foi impossível não ficar rendida à ideia, que através de técnicas tradicionais, como o bordado, a pintura e a costura, reproduz fielmemente aqueles desenhos super especiais, eternizando-os nas mais ternurentas almofadas.   

Mas a ternura não se fica por aí. Com o crescimento da Dream Pillows, surgiram novos produtos, não menos encantadores. Existem almofadas para todas as ocasiões, todas elas pautadas por um imenso bom gosto, sempre com aquele toque tão docinho.

Resta-me esperar, pacientemente, que a Margarida comece a esboçar as primeiras obras!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

263 dias



Foi esse o tempo que a Margarida levou a formar-se dentro de mim. Pétala a pétala. Foram precisos 263 dias para a formação de uma nova vida, de uma mãe, de um pai, de uma família. Agora, com algum afastamento, recordo esses nove meses com um sorriso ainda mais especial, uma espécie de 'eras tu!', que transforma toda a alucinante experiência que é o gerar um filho, num privilégio, porque, afinal, era ela, a nossa Margarida.

Duvido sempre daquelas pessoas que descrevem a gravidez como um período maravilhoso, mágico, de infinita (e inquestionável) felicidade. Duvido e, ao mesmo tempo, invejo - não vá às vezes ser verdade!
Para mim, não foi. No início, os receios e as preocupações toldaram-me a visão. Depois, sim, comecei a desfrutar da ideia, do momento, da perspectiva de uma nova vida, a três. Mas esse encantamento durava uns 10 minutos, para rapidamente ser atropelado por um sem fim de questões, como é típico de quem pensa demais.

Durante a gravidez, sabia que teria de ir do ponto A ao Z. Mas desconhecia as restantes letras que os separavam. Não me era sequer possível imaginar como seria, por exemplo, passar por um parto. A certa altura, comecei a acreditar que, com tanto que poderia correr mal, mais valia acreditar, com todas as forças, que tudo correria bem.

E correu. A Margarida esteve bem, durante toda a gravidez. Felizmente, nunca houve um único motivo de preocupação (à excepção daquele dia em que o raio da miúda não dava sinais de vida e me fez chorar de preocupação - até passar uma ambulância na rua e ela acordar!). Já eu, passei por alguns maus bocados. Os desconfortos, a partir do quinto mês, eram diários, constantes, crescentes! Lá para o oitavo mês, eu já só ansiava pelo fim. À ansiedade de querer conhecer a nossa Margarida, somou-se o desespero por querer voltar a sentir-me eu. Por me poder mover sem dores - um nervo ciático comprimido pelo útero, desde as 22 semanas, é coisa que não desejo a ninguém (nem mesmo às tais mulheres que descrevem a gravidez como algo maravilhoso, do princípio ao fim!).

Mas, sim, tudo correu bem. Tendo em conta que a gravidez foi toda passada com a convicção de se tratar de um meio para um fim, quando chegou, finalmente, o fim (que era, na verdade, o começo), às 39 semanas e 2 dias, a vontade era tanta que tudo se tornou fácil. Bem mais fácil e simples do que imaginava. Juntamente com o pai da Margarida, fomos descobrindo que depois do A vinha o B, que se seguiria o C... e assim sucessivamente até chegarmos ao tão temível Z - o parto! 

O parto foi um momento tão especial e íntimo, que sinto apenas vontade de relatá-lo à outra interveniente da história, que, a seu tempo, saberá como cá chegou. Naquela sala de partos, cada um fez o seu trabalho. Eu tive a força, a Margarida a vontade, e o pai as mãos e as palavras que eu precisava. Naquela sala de partos, cheia de gente, a certa altura, existia eu, a minha força e a voz do pai da Margarida. Apenas nós. E foi nesse momento que a Margarida se juntou ao 'nós', às nossas lágrimas, aos nossos corações acelerados. A memória de termos sido apenas nós, mesmo numa sala repleta de gente, é a que fala sempre mais alto, quando recordo aquele momento único. 

Foram 263 dias a prepararmo-nos para o resto das nossas vidas. E nada, absolutamente nada nos poderia ter preparado para o que viria, para o que é, para o que ainda está por vir. Agora sei que é precisamente aí que reside a grande magia de tudo isto. Sabemos apenas que somos e seremos os três, mesmo numa sala repleta de gente.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

É o Té

O Té não era propriamente um gato meigo. Sabia sê-lo, mas apenas quando queria. Como qualquer gato, o Té era tudo menos paciente e tolerante com criaturas da espécie humana. Até que apareceu uma menina que, embora o assuste com tamanha energia e cordas vocais, lhe roubou o coração. 

Ainda antes da chegada da Margarida, o Té, volta e meia, escapulia-se para a cama dela, onde o encontrávamos muito bem instalado, naquele recanto imaculado, que aguardava a chegada da sua (verdadeira) inquilina. Na altura, brincávamos que o Té achava que o berço seria um presente para ele. Agora, de coração roubado, acredito que o Té estava a antever quem aquela cama iria receber e que, ele próprio, a esperava ansiosamente, enquanto fabricava quilos de paciência para os tempos que se aproximavam. 

Não é preciso estar muito atento para perceber que o Té gosta de estar de olho nela, que de vez em quando vai até ao quarto onde ela dorme assegurar-se de que tudo está em ordem, que faz de tudo para se aproximar - sempre mais um bocadinho, que deixa que ela lhe puxe o pelo, as orelhas e o coração.

Ela puxa. Ele faz ron-ron. E ela gosta tanto de o ter por perto que, sempre que o vê passar, foge-lhe um sentido e profundo "Téééé!". Nós confirmamos sempre, é o Té.

Ok, em boa verdade, 'té' é o que mais ouvimos a Margarida "dizer", mesmo sem o gato por perto. Mas a primeira vez que o disse, foi a esticar-se para chegar ao gato. E eu juro que nenhum "té" é tão "té" como o "té" que lhe sai do coração sempre que vê o Té.

De facto, Margarida, "Té" assenta-lhe lindamente!

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Creche, aquele tema delicado

Há precisamente uma semana, a Margarida passou a ser do mundo. Pelo menos, foi assim que eu senti. Senti, quase seis meses após o parto, o verdadeiro corte do cordão umbilical. Até então, a Margarida foi nossa, mas mais minha, no correr dos dias. 
Foram seis meses a viver em exclusivo para ela, fora os nove meses da gravidez, em que me sabia acompanhada por aquele ser, sempre com o peso da responsabilidade, sempre com o cuidado e o bem querer que crescia a cada dia. A mente acompanha as mudanças do corpo e, de alguma forma, as hormonas tornam-nos mais animais. 

Sabia que até os meus braços iriam sentir a falta daquele pequeno corpo. Que os beijinhos se iriam acumular até à hora de a ir buscar. Que os meus ouvidos a iriam ouvir no quarto vazio. Que o coração iria ficar apertado e as lágrimas demasiado pesadas para as conseguir conter. Tudo se confirmou. Na véspera, já todos os sintomas se tinham apresentado ao serviço - a coisa prometia...! 

No dia, no grande dia, acordei consciente de que o meu estado de espírito iria influenciar também o dela. Eu e o pai fizemos daquele início de manhã uma alegria, com cantigas, palhaçadas, vozes e entoações tolas. 
O sorriso da Margarida, ao entrar no edifício, fez-me acreditar tratar-se de um sinal de que tudo correria bem. O primeiro dia correu dentro do que se poderia esperar de um primeiro dia - aguentou-se minimamente bem, comeu minimamente bem, chorou e dormiu o mínimo. Eu ter sobrevivido ao primeiro dia, de forma decente e sem desidratar por completo, devo-o integralmente ao pai da Margarida, que não me deixou sozinha um minuto, até a irmos buscar. 

O segundo dia custou mais. Fui-me abaixo. Foi o peso do "vai ser assim todos os dias". Uma estranha sensação de que nada estava certo, porque eu não estava com ela. A partir do segundo dia, a Margarida passou a estar bem, a comer bem, a dormir mais. Assim tem sido esta semana. A Margarida faz o favor de me sossegar o coração, sempre que a levo e vou buscar - o sorriso é sempre o mesmo! 

Mentiria se dissesse que deixei de acreditar que, pelo menos até aos 12 meses, o lugar do bebé deverá ser junto dos pais ou outros familiares. Mas, em caso de impossibilidade, e sendo um mal necessário, acredito que acaba por se tornar benéfico. A Margarida será, certamente, um bebé diferente daquele que seria se ficasse comigo mais tempo, mas isso não significa que seria melhor, mais saudável, mais feliz.

Desde que a creche sirva apenas de complemento, uma espécie de ajuda aos pais, acredito realmente que será sempre uma mais-valia. O sorriso da Margarida diz-me isso. 

A saga do leite

Apesar de ter nascido com pouco mais de 3kgs, rapidamente a Margarida começou a ganhar peso, bastante, o que não era de admirar, tendo em conta a quantidade de leite que sempre gostou de beber. O leitinho era, na verdade, a grande alegria da vida da Margarida. Os biberões eram sugados até quase deixarem de ter ar no interior. Entraram as papas e sopas e a Margarida começou, desde logo, a tratá-las também por tu. 

Eis que, a dias dos 6 meses, a Margarida desinteressa-se pelo leite. "Como assim?? Será que não tem fome?", "será por estar frio?", "será por estar distraída?"... Todas as hipóteses foram descartadas, uma a uma. Nada de encontrar explicação. Mesmo de manhã, após 10 horas de sono, a cena repete-se e a Margarida nem meio biberão bebe. Ontem, a preocupação instalou-se a sério, quando na creche reportaram a mesma situação. 

Ora, come bem a sopa, a fruta, a papa... mas o leite, que sempre lhe pareceu pouco, agora é um suplicio. Recorri à melhor amiga da mãe a.k.a. internet e fez-se luz - a Margarida enjoou do leite! Se não enjoou o sabor, no mínimo, passou a achá-lo desinteressante, comparando com as amigas papas e sopas. 

O próximo passo será experimentar adicionar uma colher de papa não láctea ao leite, para alterar ligeiramente o sabor. Vamos lá ver no que dá e se a teoria se confirma. Como plano B, existe a possibilidade de mudar de marca de leite (o que naturalmente me inspira alguma preocupação). 

Em pesquisas, percebi que há imensos bebés que, simplesmente, deixam de beber leite simples. O pequeno-almoço, por exemplo, passa a ser papa ou um iogurte. Oxalá o plano A resulte e a faça relembrar os bons velhos tempos, em que um biberão era fonte de pura felicidade! 

Actualizações sobre a saga do leite, em breve!

terça-feira, 7 de outubro de 2014

6 meses

E, assim de repente, chegamos aos 6 meses! Dei por mim a pensar que foram os 6 meses mais felizes da minha vida, mas só porque estamos em outubro, volvidos os primeiros meses, os dos maiores desafios.

O início não é feliz, não o foi para mim. Podemos sentir felicidade pelo que estamos a viver, com a perspectiva de um futuro próximo, mas acredito que os momentos em que conseguimos desfrutar de um filho recém nascido, são, em grande parte, aqueles em que o fazemos com uma nostalgia antecipada, que nos diz que todo aquele cenário se alterará, a cada dia, semana. É um encantamento instantâneo, mas tão novo e desconhecido, que impossibilita o respirar fundo que a felicidade nos traz.

Fui feliz com a Margarida, enquanto recém nascida, na ânsia do que viria. Agora, a ânsia já não existe. Deixei de ansiar que cresça, porque já é tão bom. Tão bom. Nos dias mais complicados, imaginava como seria fantástico começar a descobri-la. Queria muito saber quem é Margarida, se teria despertares difíceis e demorados como o pai, se gostaria mais de sopa ou papa, se seria sociável, como soaria a gargalhada, se seria calma, se o sorriso seria fácil.

Passaram apenas 6 meses e eu já consigo ver tanto desta pessoa pequenina. E o que vejo é tão forte e intenso, que facilmente a consigo imaginar com 2, 5, 15 anos! Posso estar redondamente enganada, pode o tempo e a vida fazerem-na tornar-se numa Margarida diferente daquela que vemos, mas eu acredito, cada dia mais, que sei bem quem é esta nossa flor de sorriso fácil e energia inesgotável.

Não foram os 6 meses mais felizes da minha vida. Foram os 6 meses mais completos, mais intensos, verdadeiros e mágicos que já vivi. Apenas os primeiros 6 meses de uma vida tão mais iluminada, de sorrisos puros, de uma alegria sem fim.


Nasceu!

A Margarida nasceu. Seis meses depois, nasce este blog. Um blog meu, dela, dos nossos dias, dos desafios, das conquistas e descobertas, mas, sobretudo, um blog feliz, tão feliz quanto o sorriso da Margarida, que é só o maior sorriso do mundo.
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