Há precisamente uma semana, a Margarida passou a ser do mundo. Pelo menos, foi assim que eu senti. Senti, quase seis meses após o parto, o verdadeiro corte do cordão umbilical. Até então, a Margarida foi nossa, mas mais minha, no correr dos dias.
Foram seis meses a viver em exclusivo para ela, fora os nove meses da gravidez, em que me sabia acompanhada por aquele ser, sempre com o peso da responsabilidade, sempre com o cuidado e o bem querer que crescia a cada dia. A mente acompanha as mudanças do corpo e, de alguma forma, as hormonas tornam-nos mais animais.
Sabia que até os meus braços iriam sentir a falta daquele pequeno corpo. Que os beijinhos se iriam acumular até à hora de a ir buscar. Que os meus ouvidos a iriam ouvir no quarto vazio. Que o coração iria ficar apertado e as lágrimas demasiado pesadas para as conseguir conter. Tudo se confirmou. Na véspera, já todos os sintomas se tinham apresentado ao serviço - a coisa prometia...!
No dia, no grande dia, acordei consciente de que o meu estado de espírito iria influenciar também o dela. Eu e o pai fizemos daquele início de manhã uma alegria, com cantigas, palhaçadas, vozes e entoações tolas.
O sorriso da Margarida, ao entrar no edifício, fez-me acreditar tratar-se de um sinal de que tudo correria bem. O primeiro dia correu dentro do que se poderia esperar de um primeiro dia - aguentou-se minimamente bem, comeu minimamente bem, chorou e dormiu o mínimo. Eu ter sobrevivido ao primeiro dia, de forma decente e sem desidratar por completo, devo-o integralmente ao pai da Margarida, que não me deixou sozinha um minuto, até a irmos buscar.
O segundo dia custou mais. Fui-me abaixo. Foi o peso do "vai ser assim todos os dias". Uma estranha sensação de que nada estava certo, porque eu não estava com ela. A partir do segundo dia, a Margarida passou a estar bem, a comer bem, a dormir mais. Assim tem sido esta semana. A Margarida faz o favor de me sossegar o coração, sempre que a levo e vou buscar - o sorriso é sempre o mesmo!
Mentiria se dissesse que deixei de acreditar que, pelo menos até aos 12 meses, o lugar do bebé deverá ser junto dos pais ou outros familiares. Mas, em caso de impossibilidade, e sendo um mal necessário, acredito que acaba por se tornar benéfico. A Margarida será, certamente, um bebé diferente daquele que seria se ficasse comigo mais tempo, mas isso não significa que seria melhor, mais saudável, mais feliz.
Desde que a creche sirva apenas de complemento, uma espécie de ajuda aos pais, acredito realmente que será sempre uma mais-valia. O sorriso da Margarida diz-me isso.
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