O Té não era propriamente um gato meigo. Sabia sê-lo, mas apenas quando queria. Como qualquer gato, o Té era tudo menos paciente e tolerante com criaturas da espécie humana. Até que apareceu uma menina que, embora o assuste com tamanha energia e cordas vocais, lhe roubou o coração.
Ainda antes da chegada da Margarida, o Té, volta e meia, escapulia-se para a cama dela, onde o encontrávamos muito bem instalado, naquele recanto imaculado, que aguardava a chegada da sua (verdadeira) inquilina. Na altura, brincávamos que o Té achava que o berço seria um presente para ele. Agora, de coração roubado, acredito que o Té estava a antever quem aquela cama iria receber e que, ele próprio, a esperava ansiosamente, enquanto fabricava quilos de paciência para os tempos que se aproximavam.
Não é preciso estar muito atento para perceber que o Té gosta de estar de olho nela, que de vez em quando vai até ao quarto onde ela dorme assegurar-se de que tudo está em ordem, que faz de tudo para se aproximar - sempre mais um bocadinho, que deixa que ela lhe puxe o pelo, as orelhas e o coração.
Ela puxa. Ele faz ron-ron. E ela gosta tanto de o ter por perto que, sempre que o vê passar, foge-lhe um sentido e profundo "Téééé!". Nós confirmamos sempre, é o Té.
Ok, em boa verdade, 'té' é o que mais ouvimos a Margarida "dizer", mesmo sem o gato por perto. Mas a primeira vez que o disse, foi a esticar-se para chegar ao gato. E eu juro que nenhum "té" é tão "té" como o "té" que lhe sai do coração sempre que vê o Té.
De facto, Margarida, "Té" assenta-lhe lindamente!
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