Quando cada um voltou à sua vida e eu voltei a mim, estava de lágrimas nos olhos e sem entender muito bem porque é que estava a ter de me controlar tanto para não chorar. De mim para mim, desejei àquela mulher, cujo rosto nem consegui focar, que tudo corresse bem.
Também nós fizemos aquele percurso, numa noite de Abril, a horas de conhecermos a Margarida. Há uns tempos atrás, aquela cena ter-me-ia, no máximo, roubado um sorriso. Mas o (meu) mundo mudou. Hoje, eu sabia o que ela estava prestes a viver e isso apoderou-se de mim, juntamente com uma avalanche de memórias, que me pareceram já tão distantes, quando olhei para baixo e vi a Margarida a apreciar as vistas, enquanto enfiava a chupeta sozinha.
Ainda a tentar encontrar explicação para toda aquela emoção que me percorria o corpo, pensei "são as hormonas!".
Passamos nove meses a culpar as hormonas (essas desgraçadas que nos fazem querer sentar no chão e chorar até desidratar, porque o móvel do Ikea está esgotado), e a tudo isso vem juntar-se um pós-parto, com hormonas desempregadas, a fazer estragos a cada 20 minutos. Habituamo-nos a culpar as pobres hormonas, quando a elas devemos agradecer o facto de termos sido capazes de gerar aquela vida - mesmo que de forma temporariamente bipolar e insana!
Mas até quando é que é aceitável usar esse bode expiatório? Quase sete meses após o parto, ainda poderão andar por aqui umas desgraçadas a fazer das suas? Podem, é certo. Pode isso e pode a minha sensibilidade ter mudado, para sempre.
Para sempre hei-de saber que uma grávida, numa fila de supermercado, merece toda a prioridade do mundo. Para sempre hei-de querer dizer a toda e qualquer grávida que tudo há-de correr bem, ao invés do infeliz "aproveita agora para dormires". Para sempre hei-de passar pela maternidade, olhar e pensar que sei exactamente o que se está a passar lá dentro e que, para muitas pessoas, aquele será o dia mais marcante das suas vidas. E vou sorrir por dentro.
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