segunda-feira, 27 de março de 2017

"Pais sem alma"

Imagem via Pinterest

Quando, há alguns dias, me deparei com um novo artigo de um dos especialistas que há muito sigo nestas coisas das criancinhas e da parentalidade, foi, como sempre, com grande expectativa que o comecei a ler - apesar do título me ter feito soar logo umas quantas sirenes. Desde essa leitura, acho que passei os últimos dias a tentar digerir e, humildemente, a reflectir sobre o que li - que, em grande parte, chocava com a minha visão e com aquela mãe a que me propus ser, há já algum tempo.

A certa altura, o autor afirma que educar sem berrar, rezingar ou resmungar não é sequer educar. Que, trocando as coisas por miúdos, isso se traduziria em "pais sem alma".

Não sei precisar quando comecei a contactar com estas coisas da parentalidade dita consciente e positiva. Sei que cedo defini que o meu caminho, como mãe, passaria por aí, sempre que me fosse possível. E para que o número de vezes em que consigo ser uma mãe que educa e disciplina com empatia, respeito e afecto fossem cada vez mais frequentes, foi e é necessário um trabalho diário - na teoria e na prática. Um trabalho de dentro para fora.

Mas, como mãe humana que sou, como mãe que também fica frustrada, cansada, irritada, com dores e com pouca paciência, há dias em que me afasto, nem que por breves instantes, da mãe que desejo ser, daquela que a Margarida merece. 

Essa mãe que há em mim, que num ou outro momento se culpa por ter elevado a voz ou por não ter tido um bocado mais de paciência para continuar a negociar, em vez de partir para o ultimato, essa mãe quase acreditou e se sentiu ligeiramente reconfortada ao ler o artigo. 
Segundos depois, a outra mãe, a que acredita profundamente no trabalho que tem vindo a desenvolver, a que confirma, diariamente, os efeitos das ferramentas que tem apre(e)ndido, rapidamente me resgatou daquelas doces balelas que continuam a tentar convencer-nos de que não só é aceitável gritar e passarmo-nos com os nossos filhos, como é necessário, em nome da disciplina, da educação, dos limites e blá, blá, blá. 

O artigo andou dias na minha cabeça - talvez pela consideração em que tenho o autor, relativamente a tantas outras questões -, o que até foi bom para reflectir, tentar perceber o outro lado e, acima de tudo, desconstruir e voltar a montar as peças daquilo em que acredito, do que pratico e o motivo pelo qual isso me parece ser o mais acertado - é sempre um bom exercício.

Ao longo destes anos, houve momentos em que quase tentei ser uma mestre zen da maternidade. Houve momentos em que consegui agir como espero conseguir agir sempre, mas também houve e há momentos em que a Margarida me vê chateada, frustrada e sem paciência. 
Uma das certezas que agora tenho em todo este processo - e que me traz alguma paz -, é que me faz sentido que a minha filha saiba reconhecer quando a mãe também está menos bem, que um olhar baste para ela saber que tem de parar, que cheguei ao meu limite e que, consequentemente, ela também - e ela sabe ler-me tão bem, mesmo sem uma palavra! 

Quero, acima de tudo, munir a minha filha de ferramentas que lhe permitam lidar, de forma saudável, com as emoções, as dela e as de quem a rodeia. E isso só acontecerá, de forma eficaz, através do exemplo. Todos os dias. Mas sei que, seguramente, irei falhar algumas vezes pelo caminho. E é aí que me vou lembrar que berrar, rezingar ou resmungar nunca será necessário (mesmo quando não conseguir evitar), que daí nada de bom advém. Quero que a Margarida saiba que, sim, pode acontecer, mas que não está certo. Tal como todos os outros certos e errados que lhe tento transmitir.
Sempre que eu pisar esse risco e a minha voz se elevar, vou lembrar-me, sobretudo, que o problema está em mim, no meu estado de espírito e nunca na minha filha. E que nunca, mas mesmo nunca, irritações, faltas de paciência e chatices várias serão úteis ou necessárias para educar ou lidar com a minha filha.

Outra certeza que tenho é que, sempre que eu errar, irei pedir-lhe desculpa. Com toda a (c)alma. 


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