sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Mãe Vs. Pai

Imagem via Pinterest
Ainda na gravidez, era claro para ambos que, dentro do possível, não existiriam diferenças entre o pai e a mãe, que dividiríamos sempre os momentos bons, mas também os mais difíceis. Aqui não existia uma mãe a querer ser mais que o pai, nem um pai a querer escapar às fraldas, banhos e noites de cólicas. Tudo seria dividido de igual forma.

Quando a Margarida nasceu, começou a desigualdade. Após uma madrugada e manhã em trabalho de parto, a Margarida nasceu às 13h50. Seguiram-se aqueles primeiros momentos de enamoramento, a passagem para o quarto e as consequentes visitas (apenas da família mais próxima). Duas horas depois, era altura de todos irem embora. Exausta por tudo o que tinha vivido nas últimas horas, ainda com o corpo a tremer por tanto esforço e a gritar por descanso, ali me vi com aquele ser, acabado de nascer. Sozinha. Nessa noite, enquanto trocava mensagens com o pai da Margarida, a certa altura deixei de receber resposta. Percebi que ele tinha adormecido - afinal, esteve de mão dada comigo durante toda aquela aventura.

Dei por mim a pensar no sentido daquilo que estava a acontecer. Então, um casal decide dividir tudo o que diz respeito ao bebé e, depois de horas de contrações, a mãe, que sentiu que ia explodir de tanta força, que passou por um parto, que ainda não se podia pôr de pé, fica sozinha com o bebé, a ter de o amamentar (de hora a hora, de 30 em 30 minutos, a cada 10 minutos - o que o bebé quiser)?! Sim, é isso. Essa primeira noite a sós com a Margarida fez-me perceber que nada seria como eu imaginava. Mais que isso, as coisas, simplesmente, não podem ser como desejamos, mesmo quando o pai quer realmente fazer tanto quanto nós, mães.

Os tempos que se seguiram foram um lembrete constante de que mãe é mãe e pai é pai. Tendo o pai de trabalhar, é natural que seja a mãe a passar todas as horas do dia com o bebé - e a aproveitar para tomar um banho e repor a dignidade, quando o pai assume o controlo. Mas sem esquecer que todos os pequenos intervalos surgem com uma espécie de bomba relógio associada - existe um tic tac latejante até ao próximo berreiro do bebé, que precisa de ser alimentado - coisa que só a mãe (em princípio) poderá fazer. 
No início, essa pressão é quase esmagadora. A mãe sente que aquele ser precisa de si para sobreviver, porque essa é, de facto, a realidade. Essa responsabilidade tem tanto de belo quanto de assustador. O pai assiste, como quem diz, presta assistência, colmata os espaços, permite os intervalos da mãe. 

Tive momentos, os mais difíceis (que não significam os mais difíceis da Margarida), em que achei profundamente injusto. Momentos em que desejei que fosse diferente. Mas depois lá vinha um ou outro momento em que o pai era simplesmente o melhor pai do mundo, o melhor companheiro que eu poderia pedir. E eu entendia e aceitava, mais uma vez, que mãe é mãe e pai é pai. Nisto da parentalidade, um não substitui o outro, são papéis complementares, que se desempenham infinitamente melhor quando conjugados.

Com o passar do tempo, mais resignada com o facto de grande parte das tarefas me competirem a mim (muito por força das circunstâncias), comecei a encarar isto da desigualdade diferença de papéis como uma combinação de forças. O tempo e a experiência no terreno fizeram-me ter a capacidade de olhar para o que se passa na nossa dinâmica e entender que existem coisas em que eu sou muito melhor que o pai. Outras, igualmente importantes, em que o pai bate a mãe.

No início, parece que o bebé é mais da mãe do que do pai, por muito que ninguém faça por isso. É assim, é a natureza, é a ordem das coisas. Mas, aos bocadinhos, o pai vai descobrindo o seu papel, vai-se descobrindo enquanto pai, vai criando elos com o bebé, brincadeiras, cumplicidades. Até ao dia em que o vemos de lágrimas nos olhos a dizer "caramba, gosto tanto dela...! Faria tudo por ela!".

Por estes dias, o pai da Margarida tem desempenhado algumas das "minhas tarefas". Esta noite, ele foi o pai, mas foi também a mãe, perante uma bebé cheia de tosse e uma mãe totalmente K.O.. 
Acordei a pensar que existe, sim, um antídoto para a desigualdade (até para a que a sociedade tenta impor). É aquele que faz o coração bater mais forte, aquele que eu sinto sempre que vejo o pai da Margarida a ser o melhor pai e o melhor companheiro do mundo. 

No amor, mãe e pai são iguais. [Ou assim deveria ser.]


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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

15 de Dezembro

Hoje é, para nós, o dia mais bonito e importante de todos. Sem este 15 de Dezembro, não existiria uma série de outros dias. Os mais felizes das nossas vidas. Da nossa vida.

Neste 15 de Dezembro celebramos um outro 15 de Dezembro. Celebramos o dia em que o [nosso] mundo mudou. No último 15 de Dezembro éramos dois a celebrar este amor, a felicidade que esse dia nos trouxe. Este ano temos, em forma de pessoa pequenina, o amor. O nosso. O maior. 

Este ano, o nosso dia começou com uma madrugada de nebulizações e sonos curtos e agitados. O dia começou cansado. É o primeiro 15 de Dezembro em trio. Hoje acordámos mais cansados, mas infinitamente mais completos do que há um ano atrás. É este o caminho.

No início da gravidez, a ideia que mais feliz me deixava era o facto daquele ser resultar do maior amor que alguma vez senti ou conheci. Isso fez-me acreditar que ele ou ela seria, definitivamente, especial. Todos os filhos deveriam ser feitos de tanto amor!

Nós já éramos felizes, mesmo sem a Margarida. Mas, desde o dia 7 de Abril, a Margarida lembra-nos aquele 15 de Dezembro todos os dias. Afinal, o 15 de Dezembro é ela, em forma de pessoa pequenina. 

Parabéns a nós! 

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domingo, 7 de dezembro de 2014

Oito


Uma otite. Muita febre. Um dente. Uma alergia a picada de insecto. Uma queda feia e a consequente marca na testa. Outro dente. Uma laringite. Muita tosse. Muita medicação. Noites incontáveis de sobressalto - podia ter sido este o balanço do último mês, um mês que pareceu longo demais. 

Mas não. Essa nunca poderá ser a memória que iremos guardar deste último mês. 

Basta olhar para a Margarida e ver o caminho que percorremos, sobretudo ela, nestes 8 meses. Os dias com ela, mesmo aqueles em que o coração fica apertado, são sempre mais felizes. E o amor, esse, já nem cabe em palavras. 

A Margarida é uma fonte inesgotável de alegria, mesmo quando a tosse a deixa exausta. E ela dança, canta e bate palminhas, mesmo cinco minutos após cair e bater fortemente com a cabeça no chão. 

Este mês foi longo, tão longo. Mas hoje, ao chegarmos aos oito meses, todos devemos bater palminhas, como a Margarida. Porque, afinal, chegámos aqui mais fortes e completos que nunca. 

'Ehhhhhhhh!!!'

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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A culpa das mães

Katie M. Berggren

A Margarida caiu. Caiu pela primeira vez e a testa dela lembra-me disso a todo o instante. Bem sei que faz parte, que era apenas uma questão de tempo, que, tendo em conta a bebé eléctrica que é, até tardou. 

A testa da Margarida lembra-me que está oficialmente aberta a época das quedas, dos dói-dóis, do meu coração a parecer que pára de bater por alguns instantes. Uma época vitalícia, bem sei. E sei, também, que vai custar ainda mais quando os dói-dóis não forem apenas do tipo que fica estampado na testa.

Mas a Margarida caiu e, por estes dias, a testa dela faz-me sentir culpada, mesmo que saiba que fiz tudo, que faço sempre tudo, que tento antever qualquer perigo, que tento, sempre, amparar-lhe as quedas. Sei e, mesmo assim, o facto de se tratar de um ser totalmente dependente de mim, de nós, faz-me sentir que falhei. 

Começo a perceber que a culpa, mesmo que irracional e quase infundada, faz parte deste papel. Seja pelo que fazemos ou pelo que deixámos de fazer. Culpa porque se vai buscar a criança mais tarde à creche. Culpa porque estamos quase a perder a paciência, quando parece que eles lutam contra o sono. Culpa por trabalhar. Culpa por não trabalhar. Culpa por isto e por aquilo. Culpa quando não a temos. 

As mães, aquelas que fazem tudo de coração pelos filhos, não deviam sentir culpa. Mas sentimos tanto o peso de sermos responsáveis pela vida e bem-estar de alguém, que qualquer variável que fuja ao nosso controlo vai, inevitavelmente, fazer-nos questionar as decisões tomadas.

As mães não têm culpa. Nem os pais. Os filhos têm de cair. Têm de viver e aprender. A vida nunca foi almofadada para ninguém. 

[Vou ler isto até interiorizar.]

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