Katie M. Berggren |
A Margarida caiu. Caiu pela primeira vez e a testa dela lembra-me disso a todo o instante. Bem sei que faz parte, que era apenas uma questão de tempo, que, tendo em conta a bebé eléctrica que é, até tardou.
A testa da Margarida lembra-me que está oficialmente aberta a época das quedas, dos dói-dóis, do meu coração a parecer que pára de bater por alguns instantes. Uma época vitalícia, bem sei. E sei, também, que vai custar ainda mais quando os dói-dóis não forem apenas do tipo que fica estampado na testa.
Mas a Margarida caiu e, por estes dias, a testa dela faz-me sentir culpada, mesmo que saiba que fiz tudo, que faço sempre tudo, que tento antever qualquer perigo, que tento, sempre, amparar-lhe as quedas. Sei e, mesmo assim, o facto de se tratar de um ser totalmente dependente de mim, de nós, faz-me sentir que falhei.
Começo a perceber que a culpa, mesmo que irracional e quase infundada, faz parte deste papel. Seja pelo que fazemos ou pelo que deixámos de fazer. Culpa porque se vai buscar a criança mais tarde à creche. Culpa porque estamos quase a perder a paciência, quando parece que eles lutam contra o sono. Culpa por trabalhar. Culpa por não trabalhar. Culpa por isto e por aquilo. Culpa quando não a temos.
As mães, aquelas que fazem tudo de coração pelos filhos, não deviam sentir culpa. Mas sentimos tanto o peso de sermos responsáveis pela vida e bem-estar de alguém, que qualquer variável que fuja ao nosso controlo vai, inevitavelmente, fazer-nos questionar as decisões tomadas.
As mães não têm culpa. Nem os pais. Os filhos têm de cair. Têm de viver e aprender. A vida nunca foi almofadada para ninguém.
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