quinta-feira, 19 de março de 2015

O dia dele


Não vou dizer que a Margarida tem o melhor pai do mundo. Não sei como são os restantes. Mas a verdade é que não preciso de saber para confirmar, todos os dias, que a Margarida tem o melhor pai que poderia ter. Mais que isso, a Margarida tem o pai que eu desejaria que qualquer filho tivesse. E isto pouco tem a ver com as vezes em que ele a embalou pacientemente, com as fraldas que mudou ou com os biberões que lhe deu. Está na vontade de ser cada vez melhor, na forma como olha para ela, como sorri e ri com ela, na imensa preocupação, na facilidade com que reorganiza toda e qualquer situação para assegurar o melhor para ela, antes de tudo o resto, sempre ela. Sempre nós. Um nós, a três, que se fortalece também nos momentos difíceis que esta coisa de sermos pais acarreta.

Este Dia do Pai tem um sabor muito especial. Sabe, novamente, a Pai. E eu não poderia sentir-me mais feliz pela Margarida, que sei que terá sempre garantido este tão doce sabor a Pai. 

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quarta-feira, 11 de março de 2015

"Cuidado com o peitinho!"

Este bebé não é a Margarida, mas o pai dela agradecia se
alguém lhe pudesse dizer onde vendem fatos destes.
Toda a gente sabe que as mães são umas exageradas. Exageradas, sobretudo, no que toca à roupa das criancinhas, tal é o medo que não estejam suficientemente agasalhadas e apanhem umas cinco 'tites, só de levarem com uma brisa no rosto. 
Toda a gente sabe que os pais são mais relaxados, também nisso. Os pais sabem que a criança não se parte, sabem ser pragmáticos e analisar objectivamente as questões  - até no que toca à necessidade, ou não, de mais roupa. E são eles que, muitas vezes, chamam as mães à razão.

Ora, seguindo a mesma lógica, nesta casa a mãe é ele e o pai sou eu. 

Tudo começou com um "cuidado com o peitinho!", ainda a Margarida era um bebé-vegetal. Estávamos no pós-banho, em plena primavera, e a frase escapou-lhe por entre os lábios, antes que ele pudesse filtrá-la, ou ajustá-la a uma forma mais viril, menos 'mãezinha'. A coisa teve piada e ainda hoje temos 'cuidado com o peitinho', para bem de todos. Cada vez que penso na quantidade de pneumonias que evitámos, percebo que todo o cuidado com o peitinho valeu a pena!

Veio o verão. Mas os pézinhos, muitas vezes, ficavam frios - "é melhor calçar umas meias". Ou não andar apenas de body. Parecendo que não, mais umas quantas pneumonias conseguimos fintar! 

Graças ao uso de meias, que ajudou a sobreviver ao verão, chegámos ao outono. Com ele trouxe as primeiras maleitas da Margarida. Um otite logo para estrear! A partir daí, nunca mais o cabelo da Margarida foi visto na rua. Ele era gorro branco, turquesa, rosa, azul, vermelho, com orelhas, sem orelhas. Gorros, sempre! Depois entraram os cachecóis. Coisa natural e até obrigatória, dado o frio que se fazia sentir.

Um inverno lixado, cheio de maleitas atrás de maleitas, muito agasalho, muita preocupação de ambas as partes. Nessa altura fomos ambos mães!

Até ao dia em que o grande dilema se abateu sobre nós. Era o dia do batizado da Margarida, que tinha um lacinho bem bonito para usar no cabelo. 
"Ela vai assim?! Sem gorro??" Vai, pois! É o dia do batizado, ninguém fica doente no dia do batizado! - claro que não usei esse argumento. Expliquei que não fazia grande sentido, que ela estava devidamente agasalhada, que não havia perigo, já que a exposição era mínima e o dia estava simpático. Lá aceitou e eu suspirei de alívio. Pouco depois, entre aquela agitação que é sair de casa com um bebé e as respectivas cento e vinte e três tralhas, vi o pai da Margarida dirigir-se com a miúda até ao wc. Qual não é o meu espanto quando o vejo enfiar-lhe algodões nos ouvidos, com um sorriso vitorioso de quem acaba de salvar a vida da filha.

Por estes dias, veio o sol, as temperaturas ligeiramente mais altas e uma Margarida de cabelo ao vento, para grande desconforto do pai, que lá foi aceitando a inevitabilidade. Comecei a sonhar com a hipótese de uma primavera e um verão de roupas mais fresquinhas e sem ouvidos entupidos de algodão. 

Hoje, após deixar a Margarida na creche, enquanto conversávamos sobre qualquer outra coisa, sai-lhe um "é, mas de manhã ela vai ter de ir na mesma de gorro... ainda está muito frio!".

(...)

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sábado, 7 de março de 2015

Onze!

Imagem via Pinterest
Nos últimos dias apoderou-se de mim uma espécie de nostalgia antecipada, um estado de incredulidade, como se fosse irreal esta coisa de ter uma filha com quase um ano. 

A chegada aos 11 meses deve ser aquela a que os pais menos atenção dão, aquela que menos celebram, porque, afinal, a mente já só vê ali o primeiro aniversário ao virar da esquina. Mas vamos lá com calma! 

Eu sinto, e muito, este marco dos 11 meses. Estou a saboreá-lo. A evitar saltar mentalmente já para os 12. Esta é a última vez que a Margarida completa apenas meses. E claro que isso é um facto que pouco importa. Mas para mim, que sou mãe dela e a respiro todos os dias, é impossível não sentir esse peso. Um peso que nada tem de pesado, quando olho e vejo que aquele pequeno bebé foi dando lugar a uma menina que nos enche de alegria e orgulho. 

Ver um filho crescer faz-nos lidar com uma dualidade que parece parva. Ficamos eufóricos com cada pequena conquista, cada novidade, cada palavra nova ou gracinha. Trabalhamos todos os dias para esse crescimento, estimulamos e aplaudimos. Sentimos orgulho. Felicidade pura. Para depois, num ou outro momento, sentirmos que perdemos alguma coisa, as saudades daquele sonzinho ao mamar, daquela expressão aos quatro meses que tanto nos fazia rir, ou de tantas, tantas outras coisas. 
Todos os dias a Margarida perde pedaços do bebé que foi, mas as novas conquistas chegam em dose dupla, tripla, eu sei lá! Tem sido uma avalanche de novidades, especialmente no que toca à comunicação. E o que a Margarida nos dá agora e aquilo que nos faz sentir é infinitamente maior do que quando fazia aquele sonzinho ou aquela expressão. É tudo mais.

Chegou a fase que eu tanto desejava, a Margarida comunica cada vez mais. Diz cada vez mais palavras e o vocabulário que já reconhece está constantemente a surpreender-me. Acho que andei a subestimá-la durante algum tempo, até ao dia em que percebi que ela reconhecia os nomes de diversas coisas, que eu sempre fiz questão de dizer, para ela ir interiorizando. Mas não é que a miúda assimila mesmo muito facilmente? 

À parte de todas as coisas imensamente deliciosas que ela faz/diz, que nos deixam com vontade de abraçá-la e nunca mais largar, a Margarida começa a mostrar realmente a sua personalidade, confirmando muitas das coisas de que já desconfiávamos. A Margarida é, acima de tudo, divertida! Adora rir, ri com gosto e gosta de nos ver rir também. Vibra com comida e fica passada se ela demora muito a chegar, ou se acaba rápido. É muitíssimo curiosa, o que anda ali de mãos dadas com a constante observação que ela faz de tudo. E claro, continua a mesma eléctrica de sempre, mas agora com outros meios, outra força, outro equilíbrio, que a tornam num perigo ambulante - mas daqueles amorosos. 

E assim, de coração cheio, chegámos aos 11 meses.

P.s.: Depois de ter escrito este post, a Margarida deu os seus primeiros dois passinhos! Yay!

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quinta-feira, 5 de março de 2015

"NÃO!"

Imagem via Pinterest
Ontem, em conversa com uma amiga, também ela mãe, falávamos do quão chatas nos sentíamos por estar constantemente a dizer 'não!".

A Margarida sempre gostou de mexer em tudo, sempre quis desesperadamente isto e aquilo, para, ao fim de 10 segundos, desejar com todas as suas forças outra coisa qualquer. Não sei o que é ter um bebé calmo, que se entretém durante minutos a brincar sozinho. A Margarida já é bem capaz de se entreter sozinha, mas quer tudo o que não pode, ou não deve. E quer já. Explora rápido e parte para outra. Naturalmente, isto implica uma atenção constante e, pior, uma repetição de 'nãos!' que até a mim cansa e que me deixa com a sensação de que eu é que deveria levar com um tremendo 'NÃO!', porque, afinal, a criança está a crescer e tem de explorar.

É óbvio que não podemos deixar que os bebés/crianças façam determinadas coisas, acima de tudo, para sua própria segurança. Existem 'nãos' necessários e quase obrigatórios. Mas, ultimamente, dou por mim a questionar-me se não cairemos, por vezes, no exagero. Um exagero cómodo. 

Refiro-me ao 'não!' que me escapa de cada vez que estou a tentar escrever uma mensagem no telemóvel e a Margarida se lembra de sair de perto de mim, sabendo eu que ela vai para onde não deve - por ser potencialmente perigoso. Esta e outras situações que tais, em que o meu comodismo (que também pode ser carinhosamente lido como cansaço-por-já-ter-ido-agarrar-a-miúda-setenta-e-duas-vezes-antes-que-se-magoasse) me fez soltar um sonoro 'não!'. 

Chego à conclusão que nós, pais, acabamos por desenvolver dois tipos de 'nãos':
  • O 'não!' porque te podes magoar, porque vais cair, porque está sujo, porque simplesmente não podes mexer nisso, porque não é teu, porque vais arrancar as teclas e eu quero lá saber que faças birra. O 'não' preocupado e que educa. 
  • O 'não!' porque quero acabar de escrever esta mensagem mesmo importante (ou nem por isso) e tu não páras um segundo!, porque vais sujar a roupa toda e ainda hoje pus tudo para lavar, porque vais desarrumar a sala e eu estou demasiado cansada para arrumar, porque estou exausta e tu não queres dormir. O 'não' cansado, comodista, que escapa da boca dos pais sem grande justificação.
Nesta fase em que a Margarida me rouba cada vez mais 'nãos' (de ambos os tipos), tento estar atenta à frequência com que os digo e, sobretudo, à razão que tenho, ou não, para os dizer. 

Até para não voltar a cair no ridículo de repreender o gato com um automático 'NÃO! Não pode!!'.

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segunda-feira, 2 de março de 2015

Creche - Um bem necessário

Faz hoje precisamente cinco meses que o mundo da Margarida se abriu e estendeu largamente. Há cinco meses atrás, estava eu de coração apertado e a ter de fazer um esforço imenso para não me desfazer em lágrimas. Sem a Margarida por perto, tudo parecia errado. As dúvidas eram muitas. Acima de tudo, era uma angústia que me tomava por completo. 

Os dias, semanas, meses foram passando, e a confiança foi conquistada. A nossa, enquanto pais, e a dela. Naquele lugar vejo real paixão pelo que se faz, um carinho imenso pelos bebés, um cuidado que nos cativou desde logo. Profissionais que se complementam entre si, ora com umas pitadas de humor, ora com umas pepitas extra doces de miminhos. 

Pareceu-nos, desde o início, que a Margarida estava bem entregue. Mais que o tempo, que tem vindo a confirmar o que suspeitávamos, a Margarida é a nossa maior prova do que de bom se faz naquela sala dos bebés. A Margarida entra na creche a sorrir e sai de lá eléctrica, numa alegria esfuziante, a rir-se de tudo e de nada. E recebe sempre um beijinho (ou dois, ou três) de despedida, onde vejo amor. Sim, amor. Não vejo apenas carinho e cuidado. Ali há amor. Não só pela Margarida - há amor pelos bebés. De tal forma que agora a angústia passou a ser o facto de, dentro de meses, ela ter de abandonar a sala dos bebés e seguir rumo à fase seguinte. 

No início, encarava a creche como a maioria das pessoas - um mal necessário. Actualmente, vendo o bem que aquele lugar e o contacto com as profissionais e os outros bebés traz à vida da Margarida, é impossível não sentir que tomámos a melhor decisão. 

Cinco meses depois, a Margarida é ainda mais feliz, em casa ou na creche. 

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