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Este bebé não é a Margarida, mas o pai dela agradecia se
alguém lhe pudesse dizer onde vendem fatos destes. |
Toda a gente sabe que as mães são umas exageradas. Exageradas, sobretudo, no que toca à roupa das criancinhas, tal é o medo que não estejam suficientemente agasalhadas e apanhem umas cinco 'tites, só de levarem com uma brisa no rosto.
Toda a gente sabe que os pais são mais relaxados, também nisso. Os pais sabem que a criança não se parte, sabem ser pragmáticos e analisar objectivamente as questões - até no que toca à necessidade, ou não, de mais roupa. E são eles que, muitas vezes, chamam as mães à razão.
Ora, seguindo a mesma lógica, nesta casa a mãe é ele e o pai sou eu.
Tudo começou com um "cuidado com o peitinho!", ainda a Margarida era um bebé-vegetal. Estávamos no pós-banho, em plena primavera, e a frase escapou-lhe por entre os lábios, antes que ele pudesse filtrá-la, ou ajustá-la a uma forma mais viril, menos 'mãezinha'. A coisa teve piada e ainda hoje temos 'cuidado com o peitinho', para bem de todos. Cada vez que penso na quantidade de pneumonias que evitámos, percebo que todo o cuidado com o peitinho valeu a pena!
Veio o verão. Mas os pézinhos, muitas vezes, ficavam frios - "é melhor calçar umas meias". Ou não andar apenas de body. Parecendo que não, mais umas quantas pneumonias conseguimos fintar!
Graças ao uso de meias, que ajudou a sobreviver ao verão, chegámos ao outono. Com ele trouxe as primeiras maleitas da Margarida. Um otite logo para estrear! A partir daí, nunca mais o cabelo da Margarida foi visto na rua. Ele era gorro branco, turquesa, rosa, azul, vermelho, com orelhas, sem orelhas. Gorros, sempre! Depois entraram os cachecóis. Coisa natural e até obrigatória, dado o frio que se fazia sentir.
Um inverno lixado, cheio de maleitas atrás de maleitas, muito agasalho, muita preocupação de ambas as partes. Nessa altura fomos ambos mães!
Até ao dia em que o grande dilema se abateu sobre nós. Era o dia do batizado da Margarida, que tinha um lacinho bem bonito para usar no cabelo.
"Ela vai assim?! Sem gorro??" Vai, pois! É o dia do batizado, ninguém fica doente no dia do batizado! - claro que não usei esse argumento. Expliquei que não fazia grande sentido, que ela estava devidamente agasalhada, que não havia perigo, já que a exposição era mínima e o dia estava simpático. Lá aceitou e eu suspirei de alívio. Pouco depois, entre aquela agitação que é sair de casa com um bebé e as respectivas cento e vinte e três tralhas, vi o pai da Margarida dirigir-se com a miúda até ao wc. Qual não é o meu espanto quando o vejo enfiar-lhe algodões nos ouvidos, com um sorriso vitorioso de quem acaba de salvar a vida da filha.
Por estes dias, veio o sol, as temperaturas ligeiramente mais altas e uma Margarida de cabelo ao vento, para grande desconforto do pai, que lá foi aceitando a inevitabilidade. Comecei a sonhar com a hipótese de uma primavera e um verão de roupas mais fresquinhas e sem ouvidos entupidos de algodão.
Hoje, após deixar a Margarida na creche, enquanto conversávamos sobre qualquer outra coisa, sai-lhe um "é, mas de manhã ela vai ter de ir na mesma de gorro... ainda está muito frio!".
(...)