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Se há altura da vida em que uma mulher vai ouvir coisas completamente desnecessárias e infelizes, é durante a gravidez. No meu caso, os comentários que mais me incomodavam vinham sempre em jeito de vaticínio, uma espécie de sina à qual não poderia escapar. A julgar pelo que fui ouvindo, não era sequer suposto ter sobrevivido além do terceiro mês. Pelo menos, de forma sã e minimamente apresentável.
Esses comentários, com um leve toque de sadismo, além de não acrescentarem nada, ainda me irritavam mais. Especialmente quando vindos de outras mães, que, do alto da sua imensa e intensa experiência, sentiam aquele gozo efervescente, ao lançarem o pânico junto de grávidas, que é como quem diz, poços de sensibilidade ambulantes.
Felizmente, sempre fui bastante impermeável a opiniões e vaticínios alheios. Mas, azar dos azares, na gravidez, essas coisas - e todas as outras - afectam! Não basta o nosso corpo estar a fabricar um pequeno ser humano, os desconfortos crescentes, a ideia de passar por um parto, o total desconhecido e as imensas dúvidas ao estilo 'serei capaz?', ainda temos de levar com a história do bebé que nasceu sem braços, da mulher que nunca perdeu aqueles 20kgs, ou do bebé que com um ano ainda não dormia uma noite seguida, o que fez com que os pais se divorciassem.
Em conversa com uma amiga que está grávida, reparei que agora sou eu a ter de ter cuidado com o que digo. Não sinto que deva pintar de cor-de-rosa uma realidade que tem, também, muitos cinzentos, mas acredito que devo dizer apenas aquilo que poderá, efectivamente, acrescentar algo, ajudar ou elucidar.
Dei por mim a questionar-me sobre o que gostaria que me tivessem dito, ao invés daquelas tretas sádicas, que as mulheres dizem umas às outras. Eis o meu top 3:
Amiga, compra já umas ampolas e um bom champô anti-queda!
Ok, este comentário também surge ao estilo vaticínio, mas de uma forma construtiva. Informativa! Durante a gravidez, fui lendo aqui e ali sobre as mudanças que a gestação trazia ao cabelo, que nuns casos se tornava mais fraco, noutros mais forte e brilhante. Cheguei ao fim da gravidez igualmente satisfeita com o meu, portanto, achei que tinha escapado ilesa. Passou-se um mês, dois, perfeito! Ao terceiro mês de pós-parto, a coisa ficou crítica. Cada vez mais cabelos na escova, cada vez menos na minha cabeça. Quando comecei a comentar com x e y, as pessoas confirmavam, lá por volta do terceiro mês após o parto, o cabelo cai. A rodos. E eu juro que ainda hoje não entendo como é que ninguém se lembrou de me avisar.
O pós-parto é lixado! Vais-te sentir mal, vais duvidar de tudo, mas é normal e vai passar!
Claro que eu sabia que o pós-parto não deveria ser nada fácil. Claro que imaginava que seria delicado, sendo que essa fase envolveria um recém-nascido e uma recuperação física. Mas ninguém me avisou que, emocional e psicologicamente, poderia ser pior que a gravidez. E, no meu caso, foi. Aliás, o pós-parto foi pior que a gravidez e o parto juntos. Levamos 9 meses a prepararmo-nos para ambos, sem haver qualquer referência ao que vem depois, à excepção dos cuidados a ter com o bebé. E os cuidados com a mãe? Neste ponto, "culpo" também os profissionais de saúde, que deveriam abordar a questão, tanto junto da grávida, quanto do companheiro (que também tende a ser apanhado de surpresa). É importante dizer que acontece, que é normal sentirmo-nos tristes (mesmo que o mundo, e nós próprias, não o entendamos), que pode acontecer. É importante saber disso. As hormonas são lixadas, sim. O baby blues existe, sim. E passa, SIM! Valha-nos o facto da queda de cabelo vir só lá mais para a frente!
Não habitues o bebé a adormecer com embalo!
No nosso caso, seria mais "não vás à bola!". Quando a Margarida tinha cerca de dois meses, o pai descobriu que dar pulinhos com a miúda ao colo, na bola de pilates, não só a acalmava, como adormecia. Ui, maravilha! Seguiram-se dois meses de adormecimentos aos pulos. E o que, no início, nos pareceu a descoberta das nossas vidas (e uns trocos a menos gastos em ginásio), transformou-se num pesadelo que nos fazia pular incessantemente, até a Margarida finalmente fechar os olhos, o que, numa das vezes, levou 1h30m a acontecer. Uma hora e meia a saltar numa bola. Não havia outra forma de a adormecer. Depois de muito desespero, pesquisa, leitura e conversa com outras mães, percebi o (grande) erro. Futuras mães e pais, anotem: não devemos embalar os nossos bebés, seja no colo, no carrinho... na bola de pilates! Devemos ensinar o bebé a desenvolver a capacidade de se auto-acalmar, mas de uma forma que ele próprio consiga reproduzir mais tarde. E, convenhamos, nunca nenhum bebé irá adormecer sozinho, aos pulos ou a dar palmadinhas no rabo.
Claro que, nisto dos bebés, convém sempre ressalvar que cada caso é um caso. Todos os bebés são diferentes, tal como as gravidezes, partos, pós-partos e dinâmicas familiares. Falo apenas da minha experiência. Teria sido muitíssimo útil que alguém me tivesse dito uma série de coisas, que vim a descobrir por mim mesma, algumas delas errando. Nisto da maternidade, como em muitas outras coisas, as mulheres conseguem ser as piores inimigas umas das outras, mesmo que sem intenção. E seria tudo tão mais fácil se nos deixássemos de clichés idiotas e partilhássemos coisas realmente úteis e construtivas, não acham?
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