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Quando soube que estava grávida, deu-se aquela espécie de pânico, aquela sensação de urgência, que nos faz saltar para o computador e começar a abrir dez separadores de uma só vez, tal é a quantidade de dúvidas, de informações, de dicas, de passos a dar, de mais isto e mais aquilo.
Sempre gostei de me informar, de pesquisar, de saber, de perceber ao ponto de poder explicar aos outros. Com o tempo, passei a conhecer, também na teoria, tudo o que acontecia no meu corpo. Sabia tudo. Sabia sempre em que estágio nos encontrávamos, o que era expectável ou não. Acreditava, e continuo a acreditar, que a informação nos permite estar mais presentes. Saber o que se passava com o meu corpo, biologicamente, fez-me também perceber o que ele precisava. Perceber o que acontecia verdadeiramente no parto, fez-me confiar mais em mim, no meu corpo e na Margarida.
Assim que a gravidez é confirmada, começa aquele acompanhamento constante. São as consultas, os exames, as análises, as ecografias, os CTG's. Na maioria das vezes, os números ficam para os médicos, enquanto as informações práticas e as dicas nos chegam através dos enfermeiros. Lembro-me de, uma vez, numa consulta de gravidez, o enfermeiro ter perguntado ao pai da Margarida se ele notava que "ela" andava mais irritada, mais sensível, acrescentando de imediato que era perfeitamente normal. Toda a gente conhece a famosa 'hiper-sensibilidade' das grávidas, certo?
Passam-se meses de uma intensa preparação para o parto. O parto. Sempre o parto, esse objectivo final. Chega o curso pré-natal e aprendemos a ler os sinais do corpo, a respirar, a relaxar, enquanto eles aprendem a massajar-nos, para aliviar o nosso desconforto. Sempre com o parto em vista. Dão-nos lições de anatomia e biologia. Fazemos exercícios para fortalecer o corpo e prepará-lo para o parto. Alertam-nos para o que não podemos esquecer de colocar na mala da maternidade. Relembram-nos de quantos em quantos minutos as contrações devem ser para nos dirigirmos à maternidade. Repetem a dica dos banhos quentes, mais os exercícios de Kegel para a frente e para trás. Tudo muito útil, sim senhora.
Aulas teóricas. Como cuidar do recém-nascido. Amamentação. E pronto. Está feito. As mães e os pais têm, agora, toda a informação necessária.
Cheguei ao final da gestação com a sensação de que estava preparada, dentro do que é possível prepararmo-nos para o desconhecido. A verdade é que a informação toda que fui acumulando ao longo dos meses me deu a confiança necessária para ir para a maternidade a acreditar que tudo correria bem. Sabia ao que ia.
Ou assim pensava. Acreditava que me tinha informado bem, afinal, consumi tudo sobre o tema. Li todos os artigos e mais alguns. Fui às aulas práticas e teóricas. Falei com inúmeras pessoas. Frequentei fóruns. Li livros. E, em momento algum, li ou ouvi qualquer referência à depressão pós-parto.
Nas primeiras semanas da Margarida, vivi numa profunda infelicidade. Uma infelicidade muito estranha, com pinceladas de cor por tê-la, por ela ser saudável, por ser tão perfeita. Mas sempre aquela nuvem negra, demasiado negra, a pairar. Numa consulta, a minha médica perguntou se me sentia triste. Disse que sim. Explicou-me que era normal. Obviamente, já eu tinha, entretanto, pesquisado sobre o assunto - sempre arrumado como um simples 'babyblues'. Até que a médica me alerta para o facto de o meu 'simples e normal babyblues' já se arrastar há três semanas - era importante estar atenta, porque podia tratar-se de uma depressão pós-parto. Fiquei assustada. Porque é que ninguém me tinha falado sobre isso antes?
Como assim?! Eu, que sempre desejei ser mãe, que adoro a minha filha recém-nascida, com uma depressão pós-parto?! A verdade é que sim, é possível. Se aliarmos o turbilhão das alterações hormonais do pós-parto, ao cansaço, e, muitas vezes, a um estado físico ainda muito debilitado, (ou até a um parto difícil), temos os ingredientes perfeitos para uma depressão pós-parto - aquela que as mães têm de esconder, porque, afinal, "como é que podes estar infeliz com uma coisinha dessas nos braços?!".
Felizmente, no meu caso, a sensação de infelicidade e os ataques de choro compulsivo foram passando ao fim de algumas semanas. Tive a felicidade de ter conhecido outra mãe que me fez sentir normal, que me fez repetir todos os dias o mantra 'vai passar'. Tenho a felicidade de ter um companheiro que me ouviu e percebeu, confirmando, rapidamente, que algo não estava bem. Soube respeitar, ainda que um bocado perdido - afinal nunca ninguém tinha tocado no assunto! Nunca nenhum enfermeiro lhe disse "a sua mulher agora está bastante sensível à custa das alterações hormonais da gravidez. Vai ter de ter paciência. O mesmo acontecerá no pós-parto, mas em dose dupla ou tripla, porque as hormonas terão de fazer o processo inverso, mas num espaço de tempo alucinante".
A história do 'babyblues' é, muitas vezes, redutora. E perigosa. É importante chamar as coisas pelos nomes e deixar claro que, sim, é normal ter um ou outro momento de tristeza, de choro, de nostalgia - isso é babyblues. E que não, não é normal passar dias e dias com uma sensação de infelicidade que parece corroer as entranhas. É importante alertar e informar, sobretudo, os companheiros. São eles as nossas principais bóias de salvamento.
Senhores que ministram cursos pré-parto, que escrevem livros, que gerem sites sobre o tema, será que não há aí um espacinho para se falar, um bocadinho que seja, da mãe e do que ela precisa DEPOIS do parto?
"Mais vale prevenir a depressão pós parto do que remediá-la".
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